No campeonato sul-americano de 1925, o uruguaio Ramón Platero comandou a Seleção que sofreu com os argentinos, no campo e fora dele.
Apesar de patrocinado pelo Paraguai, o Sul-Americano de 1925 foi disputado na Argentina, uma vez que os paraguaios não possuíam estádios em condições de sediar a competição. Inicialmente, o técnico escolhido pela CBD foi Joaquim Guimarães, mas acabou ficando com o papel de diretor técnico. O treinador de campo, na verdade, foi o uruguaio Ramón Platero, segundo descrito no relatório da entidade e publicações em jornais da época como: A Gazeta, O Globo e Correio da Manhã. Pela primeira vez na história, a Seleção Brasileira seria dirigida por um técnico estrangeiro, que tinha plenos poderes para convocar os jogadores e escalar a equipe, sem qualquer interferência dos cartolas.
O Brasil viajou com a sua força máxima para disputar a competição que, em função do número de participantes – Argentina, Brasil e Paraguai –, foi disputada em dois turnos. O começo não poderia ter sido melhor: o Brasil aplicou uma goleada no Paraguai, venceu por 5 a 2. Porém, sentindo-se autossuficientes, os brasileiros entraram em campo para enfrentar os argentinos e foram goleados por 4 a 1.
Após a goleada, veio à tona o comportamento boêmio e a desunião dos jogadores brasileiros. Segundo o zagueiro Floriano Peixoto em seu livro “Grandezas e Misérias do Futebol”, após a chegada da delegação ao Palace Hotel, em Buenos Aires, cada um tratou de seguir seu rumo pela cidade, ora nos cinemas e teatros, ora à procura dos aperitivos e mulheres dos cabarés, principalmente o Tabaris, o Flórida e o Armenonville. Treinos, alimentação e repouso passaram a ser secundários.
– Na véspera do jogo contra os argentinos, tínhamos passado a noite rodando pelos cabarés, em meio a muita bebida, tango e “chicas” (mulheres) – relata Floriano Peixoto.
Diante do acontecido, Renato Pacheco, chefe da delegação, e Joaquim Guimarães passaram a vigiar de perto os atletas, mas pouco adiantaria. O pior já tinha acontecido. Na partida seguinte, nova vitória sobre os paraguaios, por 3 a 1. E então, o segundo jogo contra os argentinos. A Seleção saiu na frente com gols de Friedenreich e Nilo. A partida ainda estava dois a zero, quando Friedenreich foi lançado completamente livre na entrada da área. Pouco antes de finalizar a jogada, o zagueiro Muttis deu uma entrada desleal, um pontapé pelas costas e o brasileiro revidou com outro pontapé. Muttis respondeu com um soco. Foi o bastante! O episódio gerou uma briga generalizada entre os jogadores. Aproveitando-se da confusão, a torcida argentina, que invadiu o campo aos gritos de “macaquitos”, agrediu covardemente os jogadores brasileiros. Ânimos serenados, a partida prosseguiu, mas, abalados, os jogadores não resistiram à pressão dos argentinos e o jogo terminou empatado.
Como consequência do lamentável episódio, ocorreram algumas passeatas de protesto na Avenida Rio Branco. Em seguida, o Palácio do Itamarati chegou à conclusão de que o futebol não aproximava os povos: o melhor para o Brasil era não disputar mais nenhuma Copa América.
Os jogos
06/12/1925 (16.30)
BRASIL 5:2 PARAGUAI (3:0)
Competição: Campeonato Sul-Americano.
Local: Estádio do Club Sportivo Barracas, em Buenos Aires (Argentina). Público: 12.000 espectadores.
Árbitro: Jerónimo Repossi (Argentina). Assistentes: não disponível.
Gols: Filó, aos16; Friedenreich, aos 18; Rivas, aos 25; Lagarto (cabeça), aos 30; Lagarto, aos 52; Molinas, aos 55; Nilo, aos 72.
BRASIL: Tuffy, Pennaforte e Clodô; Nascimento, Floriano e Fortes; Filó, Lagarto, Friedenreich, Nilo e Moderato. Treinador: Ramón Platero.
PARAGUAI: Denis, Benítez Casco e Félix López; Brizuela, Fleitas Solich e Nessi; Lino Nessi, Domínguez, Rivas, Molinas e Fretes. Treinador: Manuel Fleitas Solich.
13/12/1925 (16.00)
BRASIL 1:4 ARGENTINA (1:1)
Competição: Campeonato Sul-Americano.
Local: Estádio do Club Sportivo Barracas, em Buenos Aires (Argentina). Público: 25.000 espectadores.
Árbitro: Manuel Chaparro (Paraguai). Assistentes: não disponível.
Gols: Nilo, aos 22; Seoane, aos 41; Seoane, aos 48; Garassini, aos 72; Seoane, aos 74.
BRASIL: Tuffy, Clodô e Hélcio; Nascimento, Floriano e Fortes; Filó, Lagarto, Friedenreich, Nilo e Moderato. Treinador: Ramón Platero.
ARGENTINA: Tesoriere, Bidoglio e Muttis; Médici, Vaccaro e Fortunato; Tarasconi, Sánchez, Garassini, Seoane e Bianchi. Treinador: Angel Vázquez.
17/12/1925 (16.00)
BRASIL 3:1 PARAGUAI (1:0)
Competição: Campeonato Sul-Americano.
Local: Estádio do C. A. Boca Juniors, em Buenos Aires (Argentina). Público: 10.000 espectadores.
Árbitro: Guillermo Repossi (Argentina). Assistentes: não disponível.
Gols: Nilo, aos 30; Lagarto, aos 57; Fretes, aos 58; Lagarto, aos 81.
BRASIL: Batalha, Clodô e Hélcio; Nascimento, Floriano e Pamplona; Filó, Lagarto, Friedenreich, Nilo e Moderato. Treinador: Ramón Platero.
PARAGUAI: Denis, Benítez Casco e Félix López; Porta, Fleitas Solich e Brizuela; Lino Nessi, Domínguez, Molinas, Rivas e Fretes. Treinador: Manuel Fleitas Solich.
25/12/1925 (17.00)
BRASIL 2:2 ARGENTINA (2:1)
Competição: Campeonato Sul-Americano.
Local: Estádio do Club Sportivo Barracas, em Buenos Aires (Argentina). Público: 18.000 espectadores.
Árbitro: Manuel Chaparro (Paraguai). Assistentes: não disponível.
Gols: Friedenreich, aos 27; Nilo, aos 30; Cerrotti, aos 41; Seoane, aos 55.
BRASIL: Tuffy, Pennaforte e Hélcio; Nascimento, Rueda e Pamplona; Filó, Lagarto, Friedenreich, Nilo e Moderato. Treinador: Ramón Platero.
ARGENTINA: Tesoriere, Bidoglio e Muttis; Médici, Vaccaro e Fortunato; Tarasconi, Cerrotti, De Los Santos, Seoane e Bianchi. Treinador: Angel Vázquez.