Na inauguração da série que relembra grandes ídolos da nossa Seleção, reverenciamos o lateral-direito que liderou o Brasil no tricampeonato mundial
Na tarde do dia 21 de junho de 1970, o mundo parou. Com uma categórica vitória por 4 a 1 sobre a Itália, a Seleção Brasileira se sagrava campeã mundial pela terceira vez em sua história. Após o triunfo, os jogadores se uniram na bancada do Estádio Azteca, na Cidade do México, para receber a Copa do Mundo. E foi ali que, diante de mais de 100 mil pessoas e dos olhos de torcedores em todo o planeta, Carlos Alberto Torres se eternizou. Beijou a taça, que parecia nunca ter ficado longe das mãos do capita. Com um largo sorriso, a ergueu e estendeu para que todos pudessem ver. Era coroado ali o melhor time de todos os tempos.
Líder em uma Seleção recheada de grandes craques, Carlos Alberto está no panteão dos imortais do futebol mundial. Nada mais justo do que começar por ele, então, a nova série do site da CBF: o #TBTdaAmarelinha. Nele, lembraremos grandes lendas da história da nossa Seleção. Entre jogadores, jogadoras, treinadores e treinadoras, toda quinta-feira será dia de reverenciar os nossos grandes ídolos.
Carlos Alberto Torres (1944-2016)
Lateral-direito da Seleção Brasileira
Jogos: 68
Gols: 9
Títulos: Copa do Mundo (1970), Copa Rio Branco (1968), Taça Oswaldo Cruz (1968), Jogos Pan-Americanos (1963)
O capitão dos capitães
Capitão da Seleção Brasileira de 1970, Carlos Alberto reunía todos os requisitos para carregar a braçadeira daquele timaço. Dono de técnica singular, era um lateral-direito muito moderno para a época. Com muita intensidade, participava do ataque da Seleção, com suas arrancadas em direção à linha de fundo. Não à toa, marcou um dos gols do Brasil na final da Copa do Mundo, contra a Itália. Além disso, era extremamente respeitado por todos os integrantes daquela delegação, por sua postura dentro e fora de campo e o retrospecto vitorioso no futebol brasileiro.
Um gol para a história
Quando Pelé dominou a bola na entrada da área da Itália, seu corpo respondeu naturalmente. Num ato quase que involuntário, de tão sincronizado, ajeitou a redonda e rolou para a direita, no espaço vazio, que seria ocupado por Carlos Alberto. Como um bólido, o lateral-direito chegou na área para finalizar. Antes de encontrar o peito do pé de Torres, a bola ainda quicou no gramado. Com uma levantada sutil, deixou o solo para ser atingida em cheio e só parar no fundo do gol de Enrico Albertosi, goleiro italiano naquela partida.
Nascia ali, o gol mais brasileiro de todos os tempos. Teve de tudo. Drible, passe, ousadia, lançamento, velocidade, modernidade. E quiseram os deuses do futebol que a bola, depois de bailar e ser agraciada pelos pés de tantos craques no mesmo lance, encontrasse o desfecho da rede com uma finalização antológica de Carlos Alberto Torres.
O Capita no Museu Seleção Brasileira ao lado da Jules Rimet, taça da Copa do Mundo de 1970
Créditos: Rafael Ribeiro / CBF
Uma carreira de conquistas
Carlos Alberto Torres iniciou a carreira no Fluminense e atuou também por Santos, Botafogo e Flamengo. No exterior, ajudou a desenvolver o futebol nos Estados Unidos, atuando pelo New York Cosmos. No Tricolor das Laranjeiras, fez parte da histórica "Máquina" e foi campeão dos Cariocas de 1964, 1975 e 1976. No Peixe, atuando com o grande ídolo e amigo Pelé, viveu grande momento e conquistou inúmeros títulos, dentre eles as edições de 1965 e 1968 da Taça Brasil. Como zagueiro ou lateral-direito, Capita sempre chamou a atenção pela classe refinada.
Na função de treinador, o destaque foi semelhante ao dos tempos de atleta. Dentre os diversos clubes que comandou no Brasil e fora do país, conquistou o Campeonato Brasileiro de 1983, pelo Flamengo, o Campeonato Carioca de 1984, pelo Fluminense, e a Copa Conmebol de 1993, pelo Botafogo.
O adeus do Capita
No dia 25 de outubro de 2016, o futebol brasileiro se despediu de seu eterno capitão. Aos 72 anos, Carlos Alberto Torres nos deixou, enchendo os corações brasileiros de saudade e gratidão pelas grandes memórias e por tudo que ele fez pelo nosso futebol.
O corpo do Capita foi velado durante dois dias na sede da Confederação Brasileira de Futebol. Ex-jogadores, treinadores e ídolos do futebol brasileiro estiveram no velório para se despedir do grande amigo. Entre eles, estiveram Brito, Bebeto, Petkovic, Maurinho, Leandro Ávila, Roberto Dinamite, Edu, Gonçalves, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e Cafu.
Na primeira partida em casa após a morte de Carlos Alberto Torres, a Seleção Brasileira homenageou foram Carlos Alberto Torres. Lateral-direito titular e capitão da equipe na época, Daniel Alves vestiu a camisa de número 4 diante da Argentina, no Mineirão. Na braçadeira, um agradecimento póstumo ao ídolo, com a mensagem “Eterno Capitão”. A homenagem foi coroada com uma linda vitória por 3 a 0 sobre os rivais.
A faixa utilizada por Daniel Alves na vitória por 3 a 0 sobre a Argentina
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
Quem foi Carlos Alberto?
“Carlinhos era uma pessoa muito tranquila, aceitava opiniões. Ele era o capitão, mas conversava com todo mundo, nós eramos soldados mas ele também se igualava como a gente e não como capitão.” - Brito
"Ele sempre foi meu ídolo como jogador, como pessoa. Tive a grande oportunidade de jogar com o Carlos Alberto em 76, na Máquina Tricolor, eu moleque, e ele já veterano. Aprendi muito." - Edinho
"Nada nos tiraria o caneco e eu já me sentia o ganhador de pelo menos meia dúzia de garrafas. Foi então que Pelé rolou a bola para Carlos Alberto, que corria em direção à área da Itália. Antes que Carlos Alberto disparasse, fechei os olhos e vi minhas ampolas batendo asas." - Ruy Castro
"Muitos me perguntam como eu formaria o melhor time do mundo de todos os tempos, entre os jogadores que vi atuar. [...] Na lateral direita, Carlos Alberto, com sua passada larga, cabeça em pé, passe perfeito e boa marcação." - Tostão
Formação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970
Créditos: Acervo CBF