Branco comemora classificação da Seleção Brasileira contra a Suécia na Copa do Mundo de 1994 - Brasil x SuéciaCréditos: Getty Images
O título que encerrou um jejum de 24 anos da Seleção Brasileira sem conquistas mundiais traz lembranças ainda bem cristalinas e que resistem ao tempo na memória de Branco, o lateral que brilhou nas fases finais daquela Copa de 1994, nos EUA. O roteiro do tetracampeonato, na verdade, começou muito antes da grande final contra a Itália, em 17 de julho, e passou, segundo ele, por momentos dramáticos, de muita pressão e incertezas.
"O Brasil vinha de 24 anos sem conquistar uma Copa. A desclassificação em 86 foi traumática, nos pênaltis para a França e em 90 saímos para a Argentina. A pressão era enorme e começamos mal nas eliminatórias. Perdemos pela primeira vez na história para a Bolívia e o time estava desacreditado. Foi então que demos uma guinada após vencer a Bolívia em Recife por 6 a 0. Entramos em campo de mãos dadas para simbolizar a união do grupo. Isso nos encheu de moral e conquistamos a vaga naquela vitória épica sobre o Uruguai, com o Romário dando aquele show”, conta o ex-lateral, hoje coordenador das Seleções Masculinas de base da CBF.
Viola e Branco comemoram a conquista da Copa de 1994Créditos: Getty Images
A reviravolta se consolidaria jogo a jogo na Copa. O ânimo do grupo na chegada aos Estados Unidos já era um indicador de que a Seleção estava recuperada do baque das Eliminatórias e pronta para brigar pelo título.
“Chegamos nos Estados Unidos confiantes e certos de que poderíamos ser campeões. O time era muito forte mentalmente, com um sentido coletivo apurado. Éramos fortes em todos os quesitos. Foi uma Copa muito difícil, enfrentamos adversários complicados. A vitória sobe os Estados Unidos, no dia da independência deles, com o Leonardo expulso, foi o momento mais tenso. Nas quartas de final, ganhamos da Holanda numa grande atuação da equipe e eu pude fazer o gol da vitória.”
O gol de falta, com a curva que a bola fez, pontuou a trajetória de Branco dentro e fora do futebol.
“Aquele gol marcou profundamente minha carreira e minha vida. Na final, enfrentamos a Itália com o estádio lotado e um calor absurdo. Foi a primeira Copa decidida nos pênaltis e eu pude marcar um dos gols”, recorda-se. “Ser campeão é uma sensação indescritível, fica marcado na memória do torcedor, do jogador, de todo o país.”
Branco é o coordenador das Seleções Masculinas de BaseCréditos: Joilson Marconne/CBF
A campanha vitoriosa teve a força do coletivo e da individualidade de vários atletas, além do comando da dupla Parreira (técnico) e Zagallo (coordenador), dois nomes muito respeitados mundialmente, já naquela época.
"O time era muito forte e consistente. Além da força mental e física, o Parreira e o Zagallo eram muito experientes e, ao mesmo tempo, inovadores. Exercíamos marcação pressão, marcação alta, os dois atacantes (Bebeto e Romário) davam o primeiro combate, o meio-campo, mesmo muito marcador, era de bastante mobilidade. Tínhamos uma equipe compacta, que não deixava espaço para os adversários. A defesa era segura, firme. O aprendizado das derrotas nas copas anteriores, nas quais alguns atletas que estavam nesse grupo participaram, ajudou a dar a casca necessária para suportar a pressão que sofremos desde as eliminatórias."
Atualmente, a Seleção vive outra expectativa, que é a da disputa da Copa do Mundo de 2026, novamente nos EUA, em conjunto com México e Canadá. Branco mantém o otimismo de sempre, ciente do potencial histórico da Seleção Brasileira.
“Os EUA nos trazem boas recordações e boas energias. Temos um treinador que é enorme (Carlo Ancelotti), a Seleção Brasileira também é gigante, com jogadores que atuam nas principais ligas do mundo, experientes, apesar de muitos serem ainda jovens. Mais importante é ter coesão, união entre os atletas, um mental forte e uma boa gestão de grupo. Nisso estamos muito bem servidos, tanto na comissão técnica quanto na parte administrativa da Seleção. Com os jogadores que temos, de qualidade técnica inquestionável, temos tudo para repetir a façanha de 94 e voltar com a Taça."