50 anos do Tri: Dúvidas sobre escalação movimentaram Brasil x Romênia

50 anos do Tri: Dúvidas sobre escalação movimentaram Brasil x Romênia

Com as lesões de Gerson e Rivellino, Zagallo não confirmou equipe titular até minutos antes da partida. Após a vitória, atuação da Seleção foi criticada pela imprensa brasileira

Capa do Jornal O Globo na véspera do jogo contra a Romênia na Copa de 1970 Capa do Jornal O Globo na véspera do jogo contra a Romênia na Copa de 1970
Créditos: Acervo O Globo

A série "50 anos do Tri" relembra, em crônicas e reportagens, a conquista da Copa do Mundo de 1970 pela Seleção Brasileira. Serão várias publicações ao longo do mês de junho, que marca o aniversário do terceiro título mundial do Brasil.

"Vencer, se possível, com muitos gols".  Foi com este trecho da entrevista pré-jogo de Zagallo que o Jornal O Globo decidiu abrir sua edição de 10 de junho de 1970. Naquela tarde, o Brasil enfrentaria a Romênia no Jalisco, em Guadalajara, e o clima era um misto de confiança com preocupação. Principalmente por não saber o time que a Seleção levaria a campo.

Gerson ainda se recuperava de lesão muscular, enquanto Rivellino era dúvida para a partida. Com o possível desfalque dos dois, Zagallo não confirmou o time antes da partida. Na véspera, disse ter três fórmulas para escalar o time, o que levou a Folha de São Paulo a apresentar três escalações diferentes em seu material pré-jogo. Uma delas estava certa: a que listava Félix, Carlos Alberto, Brito, Fontana, Everaldo, Piazza, Clodoaldo, Paulo Cézar, Pelé, Tostão e Jairzinho.

Os boatos sobre a escalação de um time reserva levaram até mesmo Zagallo a discutir com alguns profissionais da imprensa e causou um mal entendido com Pelé. Como revelou Carlos Alberto Parreira, auxiliar de preparação física da Seleção na Copa do Mundo, o Rei chegou ao treino antes da partida com a cara fechada. Tinha ouvido que não jogaria e seria poupado. A informação equivocada foi esclarecida, Pelé pôde voltar a sorrir e confirmou sua fome de bola com dois gols na partida.

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Para além das dúvidas sobre a escalação, havia uma incerteza sobre o estado mental da Seleção. De um lado, havia a empolgação pelas duas vitórias nas duas primeiras rodadas. Em especial, o triunfo contra a Inglaterra, que defendia seu título mundial no México. Ao mesmo tempo, a Seleção ainda não estava matematicamente classificada e precisava de um empate para garantir a liderança do Grupo 3. Esse resultado seria importante para manter o Brasil jogando em Guadalajara até a semifinal.

Por isso que, durante a entrevista na véspera da partida, Zagallo preferiu tratar o duelo com seriedade e destacar o perigo que o adversário poderia apresentar.

- Temos a obrigação de jogar o melhor possível contra a Romênia. Tudo pode acontecer. Não se deve cantar vitória na metade do caminho - garantiu o Velho Lobo à Folha de São Paulo.

No dia seguinte ao triunfo por 3 a 2, no entanto, as análises vieram mais críticas do que elogiosas à Seleção. O objetivo principal havia sido conquistado, mas sobraram ressalvas à atuação do Brasil diante da Romênia. A escolha de Zagallo por escalar Fontana no lugar de Gerson, adiantando Piazza, não foi bem avaliada. No Correio da Manhã, José Trajano criticou a partida do zagueiro.

A escalação de Fontana por Zagallo foi encarada por alguns como um risco desnecessário. Assim escreveu José Trajano para o Correio da Manhã:

"Quem viu sabe que esta foi a pior partida do Brasil nas oitavas de final. Foi mesmo a pior partida de todo o Grupo 3. Entretanto, com ela, a Seleção Brasileira garantiu sua permanência em Guadalajara para enfrentar os peruanos, domingo, já pelas quartas de final. Afinal, saímos campeões do grupo mais duro da Copa, sem nenhum ponto perdido e com seis ganhos".

Se por um lado o sistema defensivo se mostrou vulnerável e acabou criticado, Paulo Cézar e Clodoaldo se destacaram positivamente. O volante foi eleito pela maioria dos jornais como o melhor jogador em campo na partida, mesmo sem um gol ou assistência (ele sofreu a falta que originou o gol de Pelé, é verdade).

O mais importante no duelo contra a Romênia era, como frisou Trajano, garantir a vitória e a primeira colocação. Em sua famosa coluna "À sombra das chuteiras imortais", Nelson Rodrigues elogiou os primeiros 25 minutos do Brasil em campo, que terminaram com uma vantagem por 2 a 0. E viu uma Seleção mais desleixada após fazer o resultado:

"Amigos, os 25 minutos iniciais, ontem, contra a Romênia, mostraram um futebol jamis atingido, em qualquer "Copa", seja na terra, seja no céu. O nosso adversário sofreu um massacre inédito. Era de dar pena. Passes límpidos, exatos, macios. Uma qualidade, uma classe. Um sortilégio absurdo. Era um jogo mágico. E o Brasil, se tivesse uma motivação forte, teria feito, nesse período de puro sonho, uns dez "goals". E, depois de 2 a 0, paramos um pouco".

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Além da análise feita sobre a vitória do Brasil, havia um alívio generalizado por conta dos retornos de Gerson e Rivellino. Se as ausências deles haviam provocados mudanças que não teriam funcionado tão bem, com eles de volta, o Brasil se acertaria novamente. Por isso, a empolgação da imprensa quando a comissão técnica confirmou a disponibilidade deles para as quartas de final contra o Peru. Na capa do Jornal O Globo no dia seguinte, o retorno dos dois ganhou destaque próximo à manchete, que trazia a "Vitória suada" da Seleção.

Capa do Jornal O Globo fala sobre vitória brasileira contra a Romênia na Copa de 1970 Capa do Jornal O Globo fala sobre vitória brasileira contra a Romênia na Copa de 1970
Créditos: Acervo O Globo

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