Sete são os dias da semana, as cores do arco-íris, as notas musicais, as virtudes e os pecados capitais. Na numerologia, é tido como o número da perfeição. Mas sete é também o tanto de vezes que vamos ver um mito em campo na Copa do Mundo vestindo a camisa da Seleção Brasileira Feminina. Formiga.
Com 41 anos de idade, Formiga está prestes a embarcar em sua última jornada na Copa do Mundo. Quando o Brasil entrar em campo contra a Jamaica, neste domingo (9), será o início do fim da trajetória da meia. E lembranças da Copa a camisa 8 tem de sobra. Afinal, sua primeira participação foi na edição de 1995.
O início de tudo
Com apenas 16 anos de idade, uma jovem Formiga foi convocada para defender o Brasil na Copa do Mundo Feminina de 1995 ao lado de lendas do nosso futebol. Sissi, Kátia Cilene, Michael Jackson, Roseli, Pretinha, Leda Maria... A lista de craques na Seleção Brasileira era extensa. Um filme passa na cabeça da meia ao relembrar tudo que mudou na sua vida desde que disputou o Mundial pela primeira vez.
- É inacreditável. Com 16 anos eu estava disputando a minha primeira Copa, era bem juvenil. Inclusive, vi uma imagem e pensei “meu Deus, não mudou quase nada a fisionomia”. Hoje tenho uma experiência enorme, mas acho que futebol e corpo não mudaram tanta coisa assim. Para mim, parece que foi ontem. As coisas passam muito, muito rápido. Vou pra sétima, que isso! - comemora.
[foto id="141847" description="Formiga, ao lado de Sissi, na Copa do Mundo de 1999 - a segunda participação da camisa 8 da Seleção"]
Os anos passaram, mas algo não mudou em Formiga: a satisfação em defender o Brasil dentro dos gramados. A meia não deixa dúvidas de que essa será mesmo sua última Copa do Mundo, mas o futuro está em aberto. Quem sabe surge uma vaga nos bastidores da Seleção Brasileira?
- É maravilhoso poder representar o país, a Seleção Brasileira. (De 1995 para cá), a diferença está aí, é essa visibilidade toda que tem hoje. Mas eu estou feliz, claro! Quem não estaria honrado em poder estar aqui? E poder disputar minha última Copa, minha sétima. Sem dúvidas (é a última). Só se eu continuar, quem sabe futuramente, na parte da comissão e dar continuidade ao trabalho, mas fora das quatro linhas - revelou a camisa 8.
De caçula a “vovó”
A Copa do Mundo Feminina 2019 tem 24 equipes na briga pelo título, com 23 atletas convocadas cada. Faça as contas e você verá que, no total, são 552 jogadoras aptas a mostrar seu futebol nos gramados da França. Mas há um fato curioso: de todas as futebolistas inscritas até o momento, 150 sequer tinham nascido em 1995 - ano em que Formiga já estava jogando um Mundial.
Uma das novatas está, inclusive, na Seleção Brasileira. Nossa atacante Geyse, nascida no dia 27 de março de 1998, é três anos mais nova que a estreia de Formiga na Copa do Mundo. Hoje, as duas trocam experiências no grupo do Brasil.
[foto id="141979" description="Geyse é três anos mais nova que a estreia de Formiga na Copa, em 1995. Hoje, as duas são companheiras de Seleção Brasileira"]
- Eu era a caçula, hoje sou a vovó delas (risos), mas eu acho bacana! É aquela troca de bastão: você chega, você aprende. Depois ensina e passa essa vivência para quem está chegando. Eu acho fantástico. O mesmo respeito que eu tive com 16 anos, hoje tenho das que estão chegando. Fico feliz de poder contribuir com isso, de ajudar tanto quanto eu fui ajudada. Às vezes é difícil! - diz Formiga, que relembra sua chegada na Seleção:
- Você chega na minha situação, com 16 anos, onde estão as melhores do país e acha que não vai ser bem recebida. Aí você é abraçada, orientada pelas melhores. Você só tem a aprender. Então nada melhor do que eu passar esse aprendizado para elas, porque também não é fácil você chegar aqui e falar ‘nossa, estou do lado da Marta, de outra e tal’. As pessoas ficam meio paralisadas! É tão legal esse nosso papel de deixar à vontade, deixar elas saberem que aqui não é nenhum bicho de sete cabeças. Da mesma maneira que elas ficam à vontade no clube, elas vão ficar aqui também. É essa liberdade de poder trocar experiência, porque também não sabemos tudo. Muito pelo contrário! Todo dia estou aprendendo.
As memórias da Copa do Mundo
Quando perguntada sobre sua lembrança favorita de todos os Mundiais, Formiga teve certa dificuldade para citar momentos marcantes - com sete edições na bagagem, quem não teria? Mas a camisa 8 da Seleção carrega consigo, com muito carinho, a grande estreia nos gramados, além da disputa do bronze na Copa do Mundo de 1999.
- Meu primeiro jogo, claro, aos 16 anos. E lembro do jogo contra a Noruega (1999), quando bati o último pênalti e ficamos em terceiro. Fiquei feliz por ser a última e tão nova. Todo mundo bateu, foi para sexta cobrança e sobrou para mim. Na cara e na coragem, falei “ah, vou”, né? (risos). Fui feliz e consegui fazer o gol - relembra Formiga.
A meia também cita a medalha de prata na Copa do Mundo de 2007 como um momento divisor de águas para o futebol feminino no país. Eliminado nas quartas de final em 2003, o elenco da Seleção Brasileira era alvo de críticas constantes antes do vice-campeonato diante da Alemanha.
- Acho que também quando fomos vice no Mundial. Vindo dessa luta toda de futebol feminino, a gente sofreu bastante. A gente sempre sofre, mas realmente ninguém acreditava naquele elenco. Fomos lá e mudamos a história de uma certa forma. Ali, com certeza, muitas coisas começaram a melhorar no futebol feminino - completou.
[foto id="141752" description="Aos 41 anos, Formiga é a mais experiente no grupo da Seleção Brasileira Feminina"]
O segredo do sucesso
Existem truques e truques para manter a forma física em dia, mas o maior deles não é nenhum segredo: perseverança. Na opinião de Formiga, jamais ter perdido o amor pelo futebol - e toda a rotina de treinos atrelada a ele - foi um dos principais fatores para sua presença em sete edições de Copa do Mundo.
- O segredo é água de coco, todo mundo já sabe. Um litro e meio de água de coco por dia está bom, a pele fica bonita (risos). É brincadeira! Não só o amor (é o segredo), por mais que eu ame o que eu faço. Mas quando o atleta perde a vontade de levantar cedo e ir treinar, é melhor largar. Porque é essa chama que me motiva, esse querer de ajudar a modalidade. E essa chama ainda está bem acesa dentro de mim, o meu maior segredo é esse - brincou Formiga.
Copa mais difícil de todas?
A visibilidade cresceu, as seleções se equilibraram, o mundo inteiro está de olho. Seria esta a Copa do Mundo mais difícil da carreira de Formiga?
- Com certeza é a mais difícil, mas nenhuma foi fácil. Em nenhuma posso chegar e falar assim, vendo de casa: “Nossa, essa é uma Copa que dá para o Brasil ganhar tranquilo”. Não! Pode ser a mais difícil mesmo, até pelas dificuldades que tivemos para montar esse elenco. Mas eu acho que a gente tem que ter vontade, garra, e em momento algum achar que não é possível.
[foto id="141871" description="Hora do adeus: Formiga fará sua última Copa do Mundo em 2019"]
E para dar adeus à Copa do Mundo com chave de ouro, o desejo de Formiga é óbvio: colocar as mãos no troféu. Independente dos resultados na França, a camisa 8 torce para que a Seleção Brasileira siga em desenvolvimento e fazendo história.
- Tem que brigar. Sei que vai ser difícil, realmente. O que vai prevalecer ali é a vontade. Ser campeã, claro, fechar com chave de ouro é o meu desejo. Que esse grupo continue escrevendo história em nível mundial, ano que vem tem Olimpíada também. Nada de jogar toalha, é acreditar que tudo é possível - finalizou Formiga.
Seu desejo é o nosso, Formiga. Amanhã é dia! A Seleção Brasileira Feminina estreia na Copa do Mundo da França neste domingo (9), às 10h30, contra a Jamaica. No grupo C do Mundial, o Brasil ainda irá enfrentar Austrália e Itália, nos dias 13 e 18 de junho, respectivamente.