Mãe de Formiga relata emoção de ver a filha da arquibancada pela primeira vez

Mãe de Formiga relata emoção de ver a filha da arquibancada pela primeira vez

Dona Celeste sempre teve medo de avião e encarou a viagem para participar da despedida da filha pela Seleção Brasileira.

Formiga recebe sua mãe Celeste e família no hotel em Manaus Formiga recebe sua mãe Celeste e família no hotel em Manaus
Créditos: Thais Magalhães/CBF

Quando a Seleção Brasileira entrar em campo da Arena da Amazônia nesta quinta-feira, Formiga terá um filme passando em sua cabeça. Os 26 anos de entrega à Amarelinha, as conquistas, os recordes e a luta contra o preconceito que teve de enfrentar desde criança no Lobato, subúrbio de Salvador, para realizar seu sonho de jogar futebol. Mas a despedida ainda lhe reserva tempo para emoções inéditas. E, quando olhar para a arquibancada, a lenda das Guerreiras do Brasil vai procurar uma única pessoa: dona Celeste Maciel Mota, sua mãe e primeira torcedora, que a verá no estádio pela primeira vez.

“Quando ela me falou para vir, eu respondi: ‘eu vou deixar nas mãos de Deus’. Porque depois daquele acidente com aquela menina, a Marília Mendonça, eu fiquei muito… aí disse a ela: ‘Ele que sabe o que vai fazer’. Deixei, deixei, e fomos conversando, ela me dizendo que já estava resolvendo isso e aquilo e eu respondia: ‘deixa Deus trabalhar’. Quando chegou na segunda-feira, eu, que estive doente recentemente, amanheci me sentindo tão disposta que disse em oração: ‘É isso que o Senhor está me dizendo, que devo ir?’. Foi assim que decidi, pedindo a Deus que fosse piloto e copiloto para mim e todos que estavam ao meu lado. Não tive nervoso, não fiquei preocupada nem nada: vim tranquila. Não senti nada, nada, nada!”, contou dona Celeste.

Da mesma forma que superou seu receio para ver o último ato da filha com a Amarelinha, dona Celeste sabe que Formiga teve de vencer muitas barreiras para chegar até aqui. A camisa 8 já creditou à mãe, em várias ocasiões, a chance que teve de trilhar o caminho que escolheu no esporte. Isso porque, quando a volante começou a dar os primeiros toques na bola, a ideia de que mulheres podiam jogar bola era inimaginável.

Relegada à clandestinidade por 38 anos, a modalidade só deixou de ser proibida por lei em 1979, um ano depois do nascimento de Formiga. Foi outra pioneira, Dilma Mendes, que teve de se acostumar a fugir da polícia para praticar o esporte que amava, quem a levou para um time feminino pela primeira vez. Ao desembarcar em Manaus, Dona Celeste relembrou a infância de “Mira”, como chama a filha.

“Eu já tinha quatro filhos para criar aos 28 anos, bem nova. Fiz de tudo por eles, corri atrás… Mira novinha? (risos) Ela era isso que está aí, minha filha. Ela nunca me deu trabalho nenhum, só este aí: queria ir para campo, jogar bola o tempo todo. Naquela época, tinha muito preconceito, muito. Diziam que ela seria moleque macho, que viraria piveta, os irmãos ouviam isso e batiam nela para que ela não jogasse mais. Até o dia em que Dilma [Mendes] apareceu, me procurou para levá-la ao clube e eu disse: ‘eu não vou responder por ela. Se ela disse que quer ir, eu tô aqui’. Ela quis, e eu a liberei”, relatou.

Formiga recebe sua mãe Celeste e família no hotel em Manaus Formiga recebe sua mãe Celeste e família no hotel em Manaus
Créditos: Thais Magalhães/CBF

Quase três décadas e muitos feitos históricos depois, agora é hora de celebrar um dos maiores ícones do esporte brasileiro de todos os tempos. Com Dona Celeste na arquibancada, a festa de Formiga está completa. E a mãe acordou nesta quinta em sintonia com a filha: com a sensação de dever cumprido.

“Eu me sinto realizada demais, porque o que ela mais queria era isso. Ela passou por muita coisa, mas não desistiu, porque era o sonho dela”, enalteceu a torcedora fiel, celebrando a chance de ver a filha em ação in loco pela primeira vez.

“Pela TV, eu sempre vi. Como não ia assistir? Nunca perdi nenhum. Na última Olimpíada, acordava de madrugada, assisti a todos os jogos. Eu não ia ao estádio porque eu tinha medo. E eu pensava ‘poxa, mas só eu que nunca vou’... mas te digo uma coisa: tudo acontece no tempo certo. Essa hora é agora. Eu vou poder vê-la se despedir, e o que espero para hoje é ver tudo que ela recebeu em troca pela luta dela. Se estou preparada para a emoção de hoje à noite? Tenho que estar. Até de avião eu vim! (risos)”, concluiu.

Na despedida de Formiga, o Brasil enfrenta a Índia pela primeira rodada do Torneio Internacional de Manaus. É nesta quinta, às 22h (horário de Brasília), na Arena da Amazônia. A partida terá transmissão do SporTV.

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