O ano era 1950 e, atônito, o jovem Edson tentava consolar seu pai na sala de casa. Dondinho chorava copiosamente, como milhões de torcedores Brasil afora, após ver a Seleção Brasileira perder a final da Copa do Mundo para o Uruguai, em pleno Maracanã. Foi então que o menino lhe fez uma promessa: "Não se preocupe, pai, eu vou ganhar a Copa do Mundo para nós".
Pelé não somente cumpriu a promessa, como foi muito mais além. Campeão do mundo nas Copas de 1958, 1962 e 1970, tornou-se o maior vencedor da história dos Mundiais. Tornou-se o jogador mais reconhecido e admirado de todo o mundo. Aclamado por todos que o viram jogar, virou sinônimo de excelência e acabou coroado como o grande Rei do Futebol.
Foram, nesta trajetória, 114 jogos, 84 vitórias, 15 empates e 14 derrotas, com um total de 95 gols marcados com a Amarelinha. Além dos títulos mundiais, Pelé ainda conquistou diferentes edições da Copa Roca, da Taça Oswaldo Cruz, entre outras conquistas com a Seleção.
Chegou a hora de relembrar um pouco da história de Pelé com a Amarelinha. Vamos recordar os principais momentos dessa trajetória, que durou cerca de 15 anos e foi repleta de títulos, gols e grandes vitórias do Brasil.
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Pelé
Seleção Brasileira (de 1957 a 1971)
Jogos: 113
Gols: 95
84 vitórias, 15 empates e 14 derrotas
Títulos: Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970), Copa Roca (1957 e 1963), Taça do Atlântico (1960), Taça Oswaldo Cruz (1958, 1962 e 1968) e Taça Bernardo O"Higgins (1959)
A estreia e o primeiro título
A primeira oportunidade de Pelé com a Seleção Brasileira surgiu em 1957, pelas mãos do técnico Sylvio Pirillo. Então com 16 anos de idade, o jovem do Santos foi convocado para a disputa da Copa Roca, um tradicional torneio amistoso entre Brasil e Argentina. Muito pela pouca idade, o menino de Três Corações não foi titular naquele 7 de julho de 1957. Pyrillo preferiu escalar um ataque com Maurinho, Mazzola, Del Vecchio e Tite. Do banco de reservas, Pelé viu a Argentina abrir o placar, com Labruna.
O Brasil seguia atrás no placar, quando Pelé foi chamado, aos 20 do segundo tempo. Bastaram 11 minutos em campo para que brilhasse a estrela do menino, que foi às redes pela primeira vez com a camisa da Seleção. O Brasil saiu de campo derrotado na estreia de Pelé, já que a Argentina voltou a desempatar o jogo para 2 a 1, mas esta oportunidade teve um final feliz. Três dias depois, no Pacaembu, com mais um gol de Pelé, a Seleção derrotou os argentinos por 2 a 0 e conquistou a Copa Roca de 1957, o primeiro título de Pelé com a Amarelinha.
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Na Suécia, a conquista do mundo
Um ano depois de sua estreia, Pelé estava na lista do técnico Vicente Feola para a disputa da Copa do Mundo de 1958. O jovem era uma das principais apostas do treinador e deveria ser titular, mas se contundiu em um jogo preparatório contra o Corinthians, antes da Copa, e não participou de outros jogos, já na Europa, e dos dois primeiros do Mundial.
Sua estreia em Copas do Mundo veio na partida contra a União Soviética, no fim da primeira fase. Depois disso, Pelé começou a se consolidar como o grande craque que já era. Nas quartas de final, marcou o único gol brasileiro no triunfo por 1 a 0 sobre o País de Gales. Na semi, contra a temida França de Just Fontaine (artilheiro da Copa com 13 gols), Pelé assombrou o mundo. Foram três gols em uma histórica vitória por 5 a 2, recolocando, oito anos depois, o Brasil em uma final de Copa do Mundo.
A consagração de Pelé veio justamente na final da Copa, contra a Suécia. Enfrentando os donos da casa, o Brasil saiu atrás logo aos 4 minutos de jogo. Mas o que poderia ser uma pá de cal na esperança brasileira virou motivação e a Seleção mostrou porque era a melhor do mundo. Pelé conduziu o Brasil à virada, com dois gols, e ao título mundial. Um deles é, até hoje, um dos mais bonitos gols da história da Copa do Mundo. O placar mostrava 2 a 1 para o Brasil quando Pelé recebeu dentro da área, encobriu o zagueiro sueco e bateu de peito de pé, sem deixar a bola cair, para o fundo do gol. Era o cartão de visitas do Rei nas finais de Copa do Mundo.
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A lesão e o bicampeonato no Chile
Campeã do mundo, a Seleção Brasileira foi ao Chile cheia de expectativas. Afinal, o Brasil reunia boa parte das estrelas que encantaram o planeta bola na Suécia. Em especial, uma dupla: Pelé e Garrincha. Lado a lado, o Rei e o Anjo das Pernas Tortas nunca perderam uma partida sequer com a Amarelinha. A Copa do Mundo de 1962 foi um bom exemplo do quão genial eram esses dois.
No mesmo grupo de Espanha, Tchecoslováquia e México, o Brasil teve uma primeira fase bem complicada no Mundial. Mas a principal adversidade não estava nos adversários. Na segunda partida, diante dos tchecos, a Seleção perdeu Pelé, com um estiramento muscular. O meia, que marcou na estreia contra o México, não voltaria a atuar naquele Mundial.
O Rei deu lugar a Vavá e, da beira do gramado, assistiu a uma exibição de gala de Garrincha na sequência do Mundial. O Mané foi artilheiro, craque e o grande nome da conquista do bicampeonato, no Chile. Foram quatro gols marcados por ele, assim como por Vavá, outro companheiro na conquista de 1958. Com o segundo título, o Brasil se igualava a Itália e Uruguai como os maiores campeões da Copa do Mundo.
Frustração em 66: a queda na Inglaterra
Quatro anos mais tarde, como bicampeão do mundo, o Brasil foi ao Mundial tratado como grande favorito ao título. Afinal, o Rei do Futebol seguia no time, além do próprio Garrincha. Mas o desempenho da Seleção não foi nada como o esperado. Na estreia, com os dois craques, o Brasil derrotou a Bulgária por 2 a 0. Pelé, no entanto, foi caçado durante todo o jogo, sofrendo violentas faltas dos búlgaros. Como consequência, o Rei não pôde estar em campo na segunda partida, diante da Hungria, e o Brasil, desfalcado, perdeu por 3 a 1.
A terceira e derradeira partida da fase de grupos seria diante de Portugal, que tinha aquele que era considerado o melhor jogador europeu à época: Eusébio. O português marcou duas vezes e a Seleção, com Pelé voltando de lesão e Garrincha no banco, não teve forças para reagir, foi derrotada por 3 a 1 e deu adeus à Copa do Mundo.
A coroação no México: tricampeão e Rei do Futebol
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A eliminação na Inglaterra, no entanto, não poderia ser o capítulo final da história de Pelé na Copa do Mundo. Em 1970, Zagallo ofereceu ao Rei uma oportunidade de mostrar, mais uma vez, que a coroa do futebol era sua por direito. No México, Pelé foi titular em todas as seis partidas do Brasil. Foram seis vitórias, com quatro gols e seis assistências do Rei. Ele é, até hoje, o atleta com mais passes para gol em uma única edição de Copa.
Como camisa 10 em um time cheio de camisas 10, Pelé foi o grande líder do tricampeonato mundial. Logo no primeiro jogo, marcou diante da Tchecoslováquia. Contra a Inglaterra, foi dele o passe para o gol de Jairzinho, o único da partida. Diante da Romênia, mais dois gols para a conta do Rei. Nas quartas de final, contra o Peru, Pelé participou dos quatro gols no triunfo por 4 a 2, mas não deixou o dele.
Na semi, o rival foi o Uruguai e Pelé protagonizou um dos lances mais emblemáticos de sua carreira. Lançado em profundidade, o Rei enganou o goleiro Mazurkiewicz apenas usando o corpo e ficou com o gol aberto para fazer um golaço. Mas o chute passou raspando a trave e o lance ficou eternizado como "o gol que Pelé não fez". Na final, Pelé teve uma última exibição de luxo, para não deixar dúvidas de seu status dentro do futebol. Foi uma aula de futebol do início ao fim. O Rei abriu a vitória por 4 a 1 sobre a Itália, com um gol de cabeça, e deu o passe para o quarto gol, marcado por Carlos Alberto Torres.
Pelé é, até hoje, o único jogador a ganhar três Copas do Mundo. Mais do que isso, foi o camisa 10 da Seleção nas três conquistas do Mundial. Diante do Azteca lotado, Pelé se despediu das Copas como o grande craque que sempre foi. Amado pelo povo mexicano, o jogador foi alçado aos céus pelos torcedores, jornalistas e policiais que invadiram o gramado após o apito final.
A despedida como profissional
Mesmo com apenas 31 anos, Pelé deu adeus à Amarelinha em 1971. Diante de um Maracanã lotado, o Rei esteve na Seleção Brasileira que enfrentou a Iugoslávia no dia 18 de julho. O jogo terminou em um empate por 2 a 2, com gols de Gerson e Rivellino. Mas o resultado foi a menor notícia da partida, marcada pela aposentadoria do Rei Pelé. Conhecido por ter um preparo físico notável, ele poderia até mesmo ter estendido sua trajetória com a Seleção, mas preferiu encerrá-la em uma nota alta. Foi assim que o próprio definiu essa decisão uma semana antes, no dia 11 de julho de 1971. Naquele dia, o Brasil enfrentou e empatou com a Áustria por 1 a 1 no Morumbi, em São Paulo.
Pelé marcou o último de seus 95 gols com a camisa da Seleção. Diante dos vários pedidos para que ficasse até a Copa do Mundo de 1974, Pelé justificou sua decisão de dar adeus à Seleção em um grande momento. “Saio agora, quando todo mundo quer que eu fique. Seria muito triste sair quando todos acharem que está na hora", disse em entrevista, ainda no Morumbi.
Em campo, o aniversário de 50 anos
Em 1990, Pelé vestiu pela última vez a camisa da Seleção Brasileira. Na ocasião, foi organizada uma partida de celebração pelos 50 anos do Rei. Em Milão, Pelé foi comemorado num embate entre a Seleção Brasileira e uma Seleção do Mundo, com figuras como Marco Van Basten, Roger Milla, George Hagi e Stoichkov. O Brasil, que tinha uma Seleção renovada após a Copa do Mundo de 90, apresentava alguns jogadores jovens, como César Sampaio e Neto. Em campo, o Rei não marcou, mas quase teve a chance. Em uma jogada no segundo tempo, Rinaldo entrou em um dois contra um diante da zaga adversária. Mas em vez de tocar para o Rei, o então atacante do Fluminense preferiu driblar o defensor e tentar o gol, sem sucesso. O lance gerou uma grande vaia dos italianos presentes no Giuseppe Meazza, palco da partida.
Mas, mais uma vez, o resultado do jogo foi o que de menos importante aconteceu naquela partida. Diante de grandes craques e de um estádio cheio, Pelé foi, mais uma vez, celebrado, como o Rei que é. E, por uma última vez, esteve em campo com a Amarelinha. Uma imagem que jamais será esquecida.