50 anos do Tri: Brasil derrota o Uruguai e está na final da Copa do Mundo de 1970

50 anos do Tri: Copa do Mundo de 1970

Estádio Jalisco, Guadalajara (MEX) Quarta, 17 de Junho de 2020 12:00
Brasil

Brasil

Uruguai

Uruguai

Em busca do Tri!

50 anos do Tri: Brasil derrota o Uruguai e está na final da Copa do Mundo de 1970

Seleção Brasileira sai atrás, busca a virada e vence por 3 a 1 no Jalisco. Agora a missão é no Azteca, contra a Itália, no próximo domingo

A série "50 anos do Tri" relembra, em crônicas e reportagens, a conquista da Copa do Mundo de 1970 pela Seleção Brasileira. Serão várias publicações ao longo do mês de junho, que marca o aniversário do terceiro título mundial do Brasil.

Brasil na a final! Há 50 anos, a Seleção Brasileira derrotava o Uruguai por 3 a 1 no Estádio Jalisco, em Guadalajara, garantindo uma vaga na final da Copa do Mundo de 1970. Os gols da Seleção Brasileira foram marcados por Clodoaldo, Jairzinho e Rivellino. Cubilla descontou para os uruguaios.

Após eliminar o Uruguai, o Brasil enfrenta a Itália na decisão. Os italianos venceram a Alemanha na outra semifinal e fazem um duelo com a Seleção para saber quem será o primeiro tricampeão mundial, o que garante a posse definitiva da taça Jules Rimet.

Quando Brasil e Uruguai perfilaram no gramado do Estádio Jalisco, em Guadalajara, o mundo do futebol prendeu a respiração. Estávamos todos prestes a testemunhar um importante capítulo na história da Copa do Mundo. 20 anos depois da final de 1950, as duas seleções voltavam a se enfrentar em um confronto eliminatório.

A Celeste Olímpica entrou em campo com o mesmo uniforme: camisas azuis, calções pretos e meiões pretos. Já o Brasil se apresentou no Azteca de camisa amarela, calções azuis e meiões brancos e duas estrelas no peito, bem diferente do uniforme azul e branco de 50. 

Aparentemente nervosa , a Seleção não teve o melhor começo. Os uruguaios tiveram as primeiras chances de gol na partida. O primeiro chute em gol foi de Ildo Maneiro, que foi facilmente defendido por Félix. Mas aos 19 minutos, o goleiro brasileiro não teve o mesmo êxito.

Após lançamento curto para dentro da área brasileira, Cubilla ganhou de Piazza na velocidade e desviou a bola. A finalização não foi das mais fortes, mas acabou deslocando Félix e morreu no fundo da rede brasileira.

A Seleção não conseguia desenvolver o seu melhor jogo dentro de campo e as chances não apareciam. Lançando mão de uma marcação bem física, o Uruguai conseguia conter os avanços brasileiros. Perto dos 35 minutos, uma falta fez o juiz paralisar o jogo por mais tempo, permitindo aos jogadores que se reunissem.

Foi aí que Gérson, que não fazia boa partida, mostrou sua liderança. Perseguido pelos implacáveis meias uruguaios, o Canhotinha de Ouro fez um apelo a Clodoaldo, como o mesmo recordou em entrevista exclusiva ao site da CBF.

- Gérson e Capita me chamaram, imagino que por volta dos 35 minutos, e Gérson falou: 'Olha, você vai sair um pouco mais porque o negócio está  pegando para mim. Está difícil para dominar e fazer os lançamentos'. Eu virei para eles e disse: 'Não é um pedido, é uma ordem' - recordou.

A orientação apresentou resultados rapidamente. Aos 44 minutos, pouco antes do fim do primeiro tempo, a bola chegou nos pés de Tostão. Mais solto, Clodoaldo foi ao ataque. Como homem-surpresa, apareceu entre a defesa uruguaia para dar um toque de bico e empatar o jogo.

Com tudo igual, o Brasil pôde ir mais tranquilo para o intervalo. Pelo menos em questão de resultado, porque o clima no vestiário não foi nada ameno. Inconformado com a postura brasileira no primeiro tempo, o técnico Zagallo deu uma bronca daquelas no time todo.

Na visão do comandante, os jogadores estavam com a cabeça muito voltada para a derrota de 1950 e precisavam se libertar desse fantasma. Para ele, o Brasil só conseguiria a classificação se soltasse as amarras do tempo e jogasse o futebol que o trouxera até ali: bonito, para frente, livre.

E foi determinada a jogar assim que a Seleção retornou para o segundo tempo. Mesmo caçado em campo, Pelé conseguia se desvencilhar da marcação. No primeiro momento, foi parado por Mazurkiewicz em finalização rasteira. Na sequência, fez linda jogada e foi derrubada dentro da área, mas o juiz não marcou pênalti.

A pressão brasileira foi aliada à persistência. Mesmo sem mexer no placar, o Brasil seguiu em busca da virada. E a conseguiu aos 31 minutos do segundo tempo. Tostão recebeu pelo meio. Com um toque seco e rasteiro na bola, lançou Jairzinho que invadiu a área, tirou do goleiro e virou o jogo: 2 a 1.

Brasil x Uruguai - Copa do Mundo 1970 Jairzinho chama a atenção da marcação uruguaia
Créditos: Acervo CBF

O Uruguai se lançou em busca do empate. Abusando dos chuveirinhos na área brasileira, a Celeste teve uma grande oportunidade de deixar tudo igual. Quando a bola veio voando da ponta esquerda, Luís Cubilla esperava sozinho na pequena área. Ele havia marcado no primeiro tempo, em falha de Félix. Mas conheceu nesse momento o tamanho do goleiro do Brasil.

A cabeçada foi certeira, no canto, firme, veloz. Mas Félix estava lá. Em questão de milésimos de segundos, reagiu ao toque, se esticou e espalmou a bola para longe. Estava garantida ali a classificação brasileira, que ainda teria duas cerejas em cima do bolo.

Aos 44 minutos do segundo tempo, Pelé recebeu pela canhota do ataque. Vulnerável, a defesa uruguaia não acompanhou Rivellino, que chegou para bater de primeira da entrada da área. O chute cruzado e rasteiro só parou no fundo do gol do Uruguai: 3 a 1 e classificação assegurada.

O último grande lance da partida não terminou em gol, mas é tão lembrado quanto os maiores golaços da Seleção naquela Copa. Já nos acréscimos, Tostão recebeu com espaço pela faixa central e observou o deslocamento de Pelé. Deu um passe milimétrico para o Rei, que, numa sacada de gênio, fez história.

Percebendo que a bola corria um pouco mais do que o esperado, apenas cruzou a frente do goleiro Marzukiewicz e, sem tocar nela, deu um drible na vaca no uruguaio. Para completar a finta, finalizou de primeira, cruzado, e viu a bola caprichosamente passar tirando tinta da trave. Um lance tão brilhante que se tornou histórico mesmo sem balançar a rede.

BRASIL  3 x 1 URUGUAI - COPA DO MUNDO DE 1970

Brasil: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé. Técnico: Zagallo.

Uruguai: Mazurkiewicz; Ubiñas, Ancheta, Matosas e Mujica; Montero Castillo e Cortés; Cubilla, Maneiro (Espárrago, 77), Fontes e Morales. Técnico: Juan Eduardo Hohberg.

Gols: Cubilla (19), Clodoaldo (44), Jairzinho (76) e Rivellino (89)

Você sabia?


- Aquela foi a primeira partida em que Zagallo não fez nenhuma substituição na Copa do Mundo. O feito se repetiria na decisão contra a Itália.

- Em 1950, Pelé era apenas um garoto e viu, na sala de sua casa, o pai Dondinho chorar com a derrota para o Uruguai. Ali, o pequeno Rei prometeu a ele que mudaria essa história e faria o Brasil campeão.

- O gol marcado por Clodoaldo contra o Uruguai foi o único em toda sua trajetória com a Seleção Brasileira.

Há 50 anos...


Como era de se esperar, a expectativa pelo reencontro entre Brasil e Uruguai em uma Copa do Mundo tomou conta do debate sobre a semifinal. Os jornais brasileiros trataram o jogo praticamente como uma revanche pelo vice-campeonato em 1950. Mais do que isso, 20 anos e dois títulos mundiais depois, a Seleção teria a chance de mostrar que não é a mesma do Maracanã.

Isso porque, entre o consenso que se estabeleceu sobre a derrota do Brasil na Copa de 50, ficou a injusta impressão de que os jogadores da Seleção não conseguiram superar os jogos mentais do Uruguai. Dessa vez, o Brasil teria que mostrar que não só era melhor, como era mais estável e paciente do que a Celeste.

Em sua capa no dia do jogo, a Folha de São Paulo antecipou o que poderia ser o jogo, um duelo de nervos no Jalisco. A manchete colocava frente a frente dois opostos que poderiam ser vistos em campo: "Brasil usa paciência contra a fúria uruguaia". Seguindo essa mesma linha, o Jornal O Globo destacou também um plano de jogo paciente para a Seleção na edição antes da partida. "Brasil começará jogo com cautela para decidí-lo com paciência".

A publicação carioca ainda deu destaque a uma frase do técnico Juan Hohberg, do Uruguai. Na véspera da partida, o treinador deu uma polêmica declaração, garantindo a Celeste na final contra Alemanha ou Itália. 

- Itália e Alemanha que resolvem entre eles quem sobrará para enfrentar domingo o Uruguai, pois nós iremos à final - disse.

Jornal O Globo destaca otimismo do Uruguai antes da semifinal da Copa do Mundo de 1970 Jornal O Globo destaca otimismo do Uruguai antes da semifinal da Copa do Mundo de 1970
Créditos: Acervo O Globo

O Globo repercutiu negativamente a declaração cheia de confiança de Hohberg: "Uruguaios já pensam na final domingo" e "Hohberg acha certo derrotar o Brasil".  Após a vitória por 3 a 1, o jornal não perdoou e voltou a ter o treinador como alvo, depois de nova entrevista polêmica do comandante uruguaio. "Hohberg irônico e arrogante chora a derrota", escreveu O Globo, no título de uma matéria que relatava a entrevista contrariada do técnico.

No geral, a visão da imprensa brasileira após o jogo não foi só de um triunfo redentor, mas também de uma vitória do futebol bem jogado, corajoso, sobre um modelo baseado na violência e no antijogo. O Correio da Manhã, de Porto Alegre, elogiou a partida de Tostão durante essa avaliação. "No gênio de Tostão, a vitória do Brasil sobre o antifutebol". As linhas d'O Globo vieram no mesmo tom e destacaram a superioridade do Brasil em todos os aspectos da partida: "Seleção venceu na técnica, na fibra e no vigor".

Jornal O Globo fala sobre vitória do Brasil no jogo contra o Uruguai pela Copa do Mundo de 1970 Jornal O Globo fala sobre vitória do Brasil no jogo contra o Uruguai pela Copa do Mundo de 1970
Créditos: Acervo O Globo

Ado Goleiro
Félix Goleiro
Leão Goleiro
Baldocchi Zagueiro
Brito Zagueiro
Fontana Zagueiro
Joel Zagueiro
Carlos Alberto Lateral direito
Ze Maria Lateral direito
Everaldo Lateral esquerdo
Marco Antônio Lateral esquerdo
Clodoaldo Meio-campista
Gerson Meio-campista
Pelé Meio-campista
Piazza Meio-campista
Rivellino Meio-campista
Tostão Meio-campista
Dario Atacante
Edu Atacante
Jairzinho Atacante
Paulo Cézar Caju Atacante
Roberto Miranda Atacante

PATROCINADORES

Seleção Brasileira Nike Guaraná Vivo Itaú Neoenergia Mastercard Gol Cimed Pague Menos TCL Semp Technogym