50 anos do Tri: Copa do Mundo de 1970
Brasil
Romênia
Seleção 100%
50 anos do Tri: Brasil bate a Romênia e fecha fase de grupos com três vitórias
Brasil encerra primeira fase com triunfo sobre os romenos e 100% de aproveitamento. Gols brasileiros foram marcados por Pelé (2) e Jairzinho
A série "50 anos do Tri" relembra, em crônicas e reportagens, a conquista da Copa do Mundo de 1970 pela Seleção Brasileira. Serão várias publicações ao longo do mês de junho, que marca o aniversário do terceiro título mundial do Brasil.
Há 50 anos, o Brasil vencia a Romênia por 3 a 2, pela última rodada da fase de grupos da Copa do Mundo de 1970. Com uma equipe modificada, a Seleção conquistou a vitória graças aos gols de Pelé (2) e Jairzinho no Jalisco, em Guadalajara. Dumitrache e Dembrovschi descontaram para os romenos. Com o resultado, a Canarinho terminou a primeira fase com 100% de aproveitamento, liderando o Grupo 3 do Mundial. Em primeiro lugar na chave, o Brasil teve o Peru como adversário nas quartas-de-final.
Com as duas vitórias conquistadas nas primeiras rodadas, a Seleção Brasileira chegou ao duelo com a Romênia praticamente classificada. Apenas uma combinação específica de resultados a deixaria fora da próxima fase. Ciente disso, o técnico Zagallo levou a campo uma equipe diferente, poupando Rivellino e Gerson. Entraram Paulo Cézar Caju na ponta esquerda e Fontana no lugar do Canhotinha de Ouro, adiantando Piazza para o meio de campo.
Disposto a garantir logo sua classificação, o Brasil começou a partida pressionando a Romênia. Os ataques saiam mais pela esquerda, graças à inspiração de Paulo Cézar. Logo no início da partida, Caju assustou os romenos em duas oportunidades. A primeira, em finalização de fora da área. Depois, ele invadiu em velocidade pela canhota e, percebendo a saída do goleiro, bateu fechado. A bola explodiu na trave.
Não demoraria para o gol brasileiro sair na partida. Jogando mais avançado, Clodoaldo fez boa jogada pelo meio e foi parado com falta na entrada da área romena. O marcador apontava 19 minutos de jogo quando Pelé cobrou a falta com firmeza, no canto do goleiro, que nem pulou na bola: Brasil 1 a 0. Apenas três minutos depois, Paulo Cézar voltou a bagunçar a defesa da Romênia.
Jairzinho driblou dois e tocou para Caju na canhota. O ponta partiu para cima da marcação e chegou à linha de fundo. Com um cruzamento rasteiro, encontrou o Furacão dentro da área, que, em meio aos zagueiros romenos, só desviou para balançar a rede. Antes do intervalo, porém, a Romênia descontou. O meia Dumitrache aproveitou a indecisão no miolo da defesa brasileira e tocou rasteiro para superar Félix.
A volta para o segundo tempo teve o Brasil pressionando em busca do terceiro gol. Pelé estava com a corda toda e fez uma exibição de gala. Em jogada pelo meio, precisou ser parado com falta, que o mesmo bateu no capricho. O goleiro Adamache, no entanto, estava mais ligado dessa vez e fez a ponte para defender. O Rei até chegou a vencer o arqueiro da Romênia, mas o gol foi anulado pelo juiz, que viu um empurrão de Pelé nas costas do zagueiro.
Mas o "doblete" do Rei não foi anulado, apenas adiado. Aos 22 minutos da segunda etapa, Jairzinho cruzou da direita à meia altura. A bola passou por Tostão, por toda a pequena área e encontrou o biquinho de Pelé, que completou para o gol: 3 a 1 e a festa da Majestade da Bola. Novamente dois gols atrás no marcador, a Romênia foi para cima em busca de um milagre. Mas conseguiu, mesmo, apenas mais um tento. Aos 39, Dembrovschi aproveitou cruzamento da direita para se antecipar a Félix e marcar.
Ao longo do segundo tempo, Zagallo aproveitou para promover a estreia de dois jogadores na Copa do Mundo do México. Aos 15 minutos, o lateral Marco Antônio substituiu Everaldo, e Edu entrou na vaga de Clodoaldo aos 29. Aquela seria a única participação do ponta esquerda no Mundial. Marco Antônio, por sua vez, ganharia uma oportunidade como titular na partida seguinte, contra o Peru, pelas quartas de final.
BRASIL 3 x 2 ROMÊNIA - COPA DO MUNDO DE 1970
Brasil: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Fontana e Everaldo (Marco Antônio, 60); Piazza e Clodoaldo (Edu, 74); Paulo Cezar, Jairzinho, Tostão e Pelé. Técnico: Zagallo.
Romênia: Adamache (Raducanu, 27); Satmareanu, Lupescu, Dinu e Mocanu; Duimitru e Nunweiller; Dembrovschi, Neagu, Dumitrache (Tataru, 72); Lucescu. Técnico: Angelo Nicolescu.
Gols: Pelé (19, 67), Jairzinho (22), Dumitrache (34) e Dembrovschi (84)
CA: Mocanu, Dimitru
Você sabia?
- A participação na Copa do Mundo de 1970 encerrou um jejum de 32 anos da Romênia sem disputar um Mundial. Antes desta Copa, a Romênia havia disputado os torneios de 1930, 1934 e 1938.
- Naquela partida, o atacante Edu fez sua estreia no Mundial do México. Mas quatro anos antes, aos 16, ele já havia feito história na Copa do Mundo de 1966. Na Inglaterra, Edu se tornou o jogador mais jovem a ser convocado para um Mundial (recorde que detém até hoje).
- Pelé fez quatro gols na Copa do Mundo de 1970, dois deles diante da Romênia. Após essa partida, o Rei só voltaria a marcar na decisão, contra a Itália.
- Antes da Copa do Mundo, a Romênia havia disputado alguns amistosos no Brasil contra equipes locais, como Cruzeiro, Atlético Mineiro, Coritiba, Flamengo e Vasco, entre os meses de janeiro e fevereiro daquele ano.
Há 50 anos...
Empolgada após a vitória sobre a Inglaterra, então campeã mundial, a imprensa brasileira esperava uma boa vitória da Seleção para confirmar a liderança do Grupo. Havia uma preocupação com uma clima exagerado de otimismo, que foi tema das perguntas para Zagallo antes do jogo. O técnico, no entanto, tratou de assegurar que o Brasil entraria em campo com os pés no chão.
'Não existem adversários fracos', alertava Zagallo antes do jogo
Créditos: Acervo O Globo
Antes da partida, o burburinho se dava em torno de qual seria a escalação usada pelo treinador na partida diante da Romênia. Havia quem garantisse que Zagallo levaria uma equipe reserva ao duelo, o que irritou bastante o treinador. Na verdade, ele não poderia contar com Gerson, que ainda se recuperava de lesão muscular sofrida contra a Tchecoslováquia, e a presença de Rivellino, com uma torção no pé, também era incerta.
Em entrevista na véspera da partida, Zagallo afirmou ter "três fórmulas diferentes" para escalar a Seleção, mas não quis revelar quais eram. Isso levou a Folha de São Paulo a oferecer ao leitor três escalações diferentes no dia do jogo. Uma delas estava certa: Félix; Carlos Alberto, Brito, Fontana e Everaldo; Piazza, Clodoaldo e Paulo Cézar; Jairzinho, Tostão e Pelé.
Outrora tratada como quase uma formalidade, a vitória por 3 a 2 sobre a Romênia despertou algumas críticas na imprensa brasileira. A Seleção, que já vinha sendo cobrada por um melhor desempenho defensivo, voltou a se mostrar vulnerável. A escalação de Fontana por Zagallo foi encarada por alguns como um risco desnecessário. Assim escreveu José Trajano para o Correio da Manhã:
"Quem viu sabe que esta foi a pior partida do Brasil nas oitavas de final. Foi mesmo a pior partida de todo o Grupo 3. Entretanto, com ela, a Seleção Brasileira garantiu sua permanência em Guadalajara para enfrentar os peruanos, domingo, já pelas quartas de final. Afinal, saímos campeões do grupo mais duro da Copa, sem nenhum ponto perdido e com seis ganhos".
A tônica dos jornais brasileiros transitavam entre uma análise mais crítica do desempenho do Brasil e a projeção do duelo contra o Peru, nas quartas de final. A Seleção teria pela frente a equipe treinada por Didi, ídolo da torcida brasileira. Muito mais importante do que saber quem o Brasil enfrentaria, no entanto, era garantir a presença dos craques que se ausentaram contra a Romênia.
Tão logo acabou o jogo, a comissão técnica da Seleção confirmou para a imprensa os retornos de Gerson e Rivellino ao time, assim como a disponibilidade de Everaldo, que saíra do jogo com uma torção. Não foi à toa que O Globo trouxe em sua capa a manchete com "Vitória suada" e, logo acima, o informe sobre a volta do Canhotinha e da Patada Atômica.
Capa do Jornal O Globo fala sobre vitória brasileira contra a Romênia na Copa de 1970
Créditos: Acervo O Globo