50 anos do Tri: Tostão brilha e Brasil supera o Peru na quartas

50 anos do Tri: Copa do Mundo de 1970

Estádio Jalisco, Guadalajara (MEX) Domingo, 14 de Junho de 2020 12:00
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Rumo às semis

50 anos do Tri: Tostão brilha e Brasil supera o Peru na quartas

Com show do meio-campista mineiro, Seleção Brasileira vence em jogo de placar movimentado. Adversário na semifinal será o Uruguai, que derrotou a União Soviética

A série "50 anos do Tri" relembra, em crônicas e reportagens, a conquista da Copa do Mundo de 1970 pela Seleção Brasileira. Serão várias publicações ao longo do mês de junho, que marca o aniversário do terceiro título mundial do Brasil.

Debaixo de sol a pino, um choque sul-americano no Jalisco, em Guadalajara. Em jogo, a definição de uma vaga nas semifinais da Copa do Mundo de 1970. Há 50 anos, o Brasil derrotava o Peru por 4 a 2, pelas quartas de final do Mundial. Os gols brasileiros foram marcados por Rivellino, Tostão (2) e Jairzinho. Os peruanos descontaram com Gallardo e Cubillas. Com o resultado, o Brasil assegurou a passagem para a próxima fase, onde teria pela frente o Uruguai, que eliminou a União Soviética na prorrogação.

A partida marcou o retorno de Gérson e Rivellino ao time titular da Seleção Brasileira. Os dois não entraram em campo contra a Romênia por lesão e suas ausências foram muito sentidas. Outro jogador que estava com o departamento médico, Everaldo teve de ver a partida do banco. Marco Antônio foi titular em seu lugar.

Os dois craques que estavam de volta se fizeram presentes rapidamente na partida. Com apenas quatro minutos de jogo, Gérson recebeu no círculo central e decidiu testar a Canhotinha de Ouro. Lançou Pelé em velocidade. O passe de mais de 30 metros encontrou o Rei, que dominou no peito, venceu o zagueiro e bateu de chapa. O goleiro Rubiños se esticou todo e tocou com a ponta dos dedos para defender. A bola ainda bateu na trave antes de cruzar a frente do gol peruano e encontrar Tostão, que não conseguiu acertar a meta.

Depois de Gérson, foi a vez da Patada Atômica dar seu cartão de visita. E em grande estilo. Aos 11 minutos, Pelé fez jogada pela direita e cruzou para a área. O lateral Campos tentou dominar, mas a bola escapou e sobrou para Tostão. Inteligente, o mineiro rolou para Rivellino, que bateu cruzado, firme, sem chances para o arqueiro peruano: 1 a 0.

Atrás no placar, o Peru tentou buscar o resultado da forma que melhor podia: jogando um futebol ofensivo, ao estilo do técnico Didi. No lance seguinte, os peruanos entraram tabelando pela intermediária brasileira. O passe de León encontrou Cubillas entrando sozinho na área e o camisa 10 da "Blanquirroja" ficou cara a cara com o gol. Com um tapa de lado externo do pé, ele até tentou tirar do goleiro brasileiro, mas foi parado por Félix.

A chance perdida por Cubillas custou caro ao time peruano. Com 15 minutos de jogo, o Brasil voltou a pressionar o Peru. Tostão cobrou curto um escanteio pela esquerda. Rivellino recebeu a bola e devolveu para o camisa 9, que entrou pela lateral da grande área. Quase sem ângulo, Tostão bateu em direção ao gol de Rubiños, que não protegeu bem seu canto e acabou batido.

Rapidamente, o Brasil construía um placar bem favorável nas quartas de final da Copa do Mundo. A Seleção comandada por Zagallo se aproveitou da ofensividade do Peru e aproveitou os espaços deixados no sistema defensivo. Mas, assim como aconteceu na partida contra a Romênia, o Brasil parece ter ficado confortável demais com a vantagem.

O calor também pode ter pesado na queda de desempenho dos jogadores brasileiros. Fato é que o Peru começou a gostar da partida e não demorou para transformar as oportunidades em gol. Aos 28 minutos, Gallardo repetiu o golpe de Tostão. Recebeu pela canhota do ataque, com a marcação de Carlos Alberto. Levou a bola em direção à linha de fundo e bateu em gol, enganando Félix: 2 a 1.

O Brasil até tentou ampliar a vantagem antes do intervalo, mas não teve sorte. Em jogada magnífica, Tostão enfileirou a defesa peruana e entrou na área em velocidade. Com um toque de bico, tentou tirar de Rubiños, que fez boa intervenção. O goleiro não foi tão bem assim quando Pelé recebeu na entrada da área e bateu para o gol. O chute saiu forte, mas não muito colocado. Só que o arqueiro complicou seu trabalho, deixou a bola escapar das mãos e foi salvo pela trave direita.

Os espaços seguiram aparecendo para a Seleção Brasileira na volta do intervalo. Após boa jogada pela esquerda, Rivellino cruzou na área e o goleiro Rubiños, em uma jornada conturbada naquela tarde, espalmou mal. Jairzinho pegou o rebote mas finalizou para fora. Momentos depois, aos sete minutos, foi a vez do Furacão da Copa atuar como garçom. Jairzinho deu um passe milimétrico para Pelé, que entrou na área e bateu cruzado. A bola ainda desviou na marcação antes de encontrar Tostão sozinho debaixo do gol. O mineiro não desperdiçou a chance e deixou o Brasil novamente com dois gols de vantagem.

Mas os peruanos se recusavam a desistir da partida. Aos 25 minutos da segunda etapa, Sotil entrou tabelando pelo meio da defesa brasileira, que cortou mal. A bola sobrou no alto para Cubillas, que pegou de primeira para superar Félix. Com o 3 a 2 no placar, o Peru estava de volta na partida, totalmente aberta para as duas equipes. E a Blanquirroja ficou muito próxima do empate minutos depois, quando o próprio Cubillas recebeu na entrada da área, cortou para a esquerda e soltou uma bomba, que passou tirando tinta do gol brasileiro.

Mais uma vez, a oportunidade desperdiçada sairia com um preço muito alto para os peruanos. Como costuma dizer o próprio camisa 10, "se você fizesse quatro gols na Seleção de 70, eles farão oito". Foi justamente assim que o Brasil respondeu ao tento marcado pelo 10 peruano. Aos 30 minutos do segundo tempo, Jairzinho e Rivellino fizeram uma jogada combinada entre eles.

Riva recebeu pelo meio e, observando a corrida do Furacão, fez um lançamento por cima da zaga peruana. Jairzinho ficou livre para driblar Rubiños, tirar do zagueiro e praticamente entrar com bola e tudo no gol, definindo a partida. Após o apito final, brasileiros e peruanos se cumprimentaram dentro de campo, cientes do grande espetáculo que ofereceram a todos os presentes. 

Jairzinho Jairzinho dribla Rubiños e completa para o gol: Brasil 4 a 2.
Créditos: Arquivo Nacional

BRASIL  4 x 2 PERU - COPA DO MUNDO DE 1970

Brasil: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Marco Antônio; Clodoaldo e Gérson (Paulo Cézar, 67); Rivellino, Jairzinho (Roberto Miranda, 80), Tostão e Pelé. Técnico: Zagallo.

Peru: Rubiños; Campos, Fernández, Chumpitaz e Fuentes; Mifflin, Challe e Cubillas; Báylon (Sotil, 54), León (Reyes, 61) e Gallardo. Técnico: Didi.

Gols: Rivellino (11), Tostão (15, 52), Gallardo (28), Cubillas (70) e Jairzinho (75)

Você sabia?


- O gol marcado por Cubillas foi seu quinto na Copa do Mundo. O meia peruano seria eleito pela FIFA como o melhor jogador jovem do torneio.

- Técnico do Peru, Didi foi bicampeão do mundo com a Seleção Brasileira ao lado de Pelé e Zagallo, seus adversários naquela tarde.

- Os dois gols marcados por Tostão foram os seus únicos na Copa do Mundo de 1970.

Há 50 anos...


Após o triunfo "sofrido" contra a Romênia, a imprensa esportiva no Brasil esperava uma atuação mais encantadora da Seleção. Mas o debate pré-jogo foi tomado por dois temas principais. O primeiro era o esperado retorno de Gérson e Rivellino ao time titular da Seleção. Com uma lesão muscular, Gérson havia ficado de fora dos duelos contra os romenos e contra a Inglaterra. Já Riva enfrentou os ingleses, mas foi poupado do jogo seguinte com uma torção.

A volta dos dois foi muito comemorada pelas publicações da época. No dia anterior à partida, o Jornal O Globo flagrou Rivellino e Gérson treinando normalmente, com largos sorrisos.

Jornal O Globo fala sobre bom ambiente na concentração brasileira na véspera do jogo contra o Peru na Copa do Mundo de 1970 O Globo destaca ambiente positivo da Seleção
Créditos: Acervo O Globo

Outro tema muito debatido antes da partida foi o confronto entre a Seleção Brasileira e Didi, técnico do Peru. Bicampeão do mundo com o Brasil em 1958 e 1962, Waldir Pereira, como era chamado pelos peruanos, teria que enfrentar não só o seu país, como o seu futebol também. Na sua edição antes da partida, a Folha de São Paulo trouxe uma página inteira dedicada ao embate entre Didi e Zagallo.

O responsável por dar o ponto de vista do Príncipe Etíope foi o jornalista Batista Lemos, que comparou a frieza que Didi apresentava dentro de campo com as características de seu trabalho à frente da seleção peruana.

"Áspero em suas decisões, honesto acima de tudo, o tido como frio Didi, hoje, quando muito, dirá que sua situação é incômoda. Não pelo fato de ter de jogar contra o Brasil, mas por ter de enfrentar o seu futebol. Futebol de gênios que ele tão bem conhece, capaz de superar táticas, abrir ferrolhos, liquidar pretensões através de um lance, apenas um, mas o necessário para conseguir um resultado definitivo", destacou.

Depois da partida, o clima era de euforia. Mas as análises mais críticas mantinham as mesmas preocupações que seguiram o Brasil durante praticamente todo o Mundial. A Seleção tinha uma tendência a "relaxar" após abrir boas vantagens dentro dos jogos. Foi assim contra a Romênia e contra o Peru. Além disso, a defesa brasileira, pelo segundo jogo consecutivo, foi vazada duas vezes, aumentando a sensação de vulnerabilidade entre os torcedores.

Mas no geral, a avaliação foi de uma partida antológica disputada entre as duas seleções. Mais do que uma análise sobre os erros do Brasil no jogo, que não foram muitos, a crônica esportiva destacou a partida aberta e ofensiva que as duas equipes fizeram. Na Folha de São Paulo, Victor Rego comparou o jogo a um "solo de violinos", justamente pelo modo como foi jogado. "O Brasil jogou como devia. O Peru jogou como podia. O resultado foi um espetáculo de alto nível", descreveu.

O destaque individual ficou por conta da grande atuação de Tostão, que fez dois gols e deu passe para o primeiro. O meio-campista ainda não havia marcado na Copa do Mundo, mas vinha crescendo de produção gradativamente durante a competição. Foi exatamente assim que a Folha avaliou a atuação do mineiro: ""Vinha subindo devagar e sempre. Ontem, desencabulou de vez."

Por fim, os jornais se mostraram animados com a possibilidade de, 20 anos depois do Maracanazzo, reencontrar o Uruguai em uma Copa do Mundo. Além da Celeste, Alemanha e Itália também se classificaram para as semis. Isso significava que, a não ser que a Alemanha ganhasse a Copa, a taça Jules Rimet conheceria seu paradeiro definitivo naquele ano.

Jornal O Globo projeta jogo difícil na semifinal da Copa do Mundo de 1970 contra o Uruguai Jornal O Globo projeta jogo difícil na semifinal da Copa do Mundo de 1970 contra o Uruguai
Créditos: Acervo O Globo

Ado Goleiro
Félix Goleiro
Leão Goleiro
Baldocchi Zagueiro
Brito Zagueiro
Fontana Zagueiro
Joel Zagueiro
Carlos Alberto Lateral direito
Ze Maria Lateral direito
Everaldo Lateral esquerdo
Marco Antônio Lateral esquerdo
Clodoaldo Meio-campista
Gerson Meio-campista
Pelé Meio-campista
Piazza Meio-campista
Rivellino Meio-campista
Tostão Meio-campista
Dario Atacante
Edu Atacante
Jairzinho Atacante
Paulo Cézar Caju Atacante
Roberto Miranda Atacante

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