Boa Vista vira palco de união entre arbitragem e futebol amazônico

A vinda do Seminário Regional do projeto Arbitragem Sem Fronteiras para Roraima tornou Boa Vista o foco do desenvolvimento e qualificação do futebol amazônico entre os dias 24 e 26 de julho. Árbitros das federações dos estados vizinhos compareceram ao Seminário, que permitiu que a Comissão de Arbitragem da CBF e o quadro local se aproximasse dos clubes da região, como o Náutico e o GAS, que tiveram interações e elogiaram a iniciativa de qualificação da arbitragem brasileira.

A cena chamava a atenção: no sábado (26), segundo dia do Seminário Regional em Boa Vista, metade do gramado do estádio Canarinho ficou com os árbitros participantes do treinamento, e a outra metade com o elenco do GAS, que se preparava para seu último confronto na Série D, agendado para domingo (27), contra o Águia de Marabá, naquele mesmo campo.

Após o término da atividade, jogadores do GAS jogam altinha enquanto árbitros do Seminário seguem em preparação físicaCréditos: CBF

Entre os participantes do Seminário estava um trio da federação rondoniense composto pelo árbitro Angleison Marcos Monteiro e os assistentes Joverton Wesley Lima e Tiago Ferreira, designado para apitar a partida do time que treinava naquele momento. Eles chegaram a Roraima às 13 horas de sexta-feira, (25), após sair de Porto Velho a uma hora da madrugada. Logo que desembarcaram, entraram em contato com o trio de instrutores para pedir para participar. “Não tem muitos voos, então tivemos que chegar com essa antecedência e deu certo de aproveitar a oportunidade”, disse o assistente 1 Joverton Wesley.

A primeira atividade foi o módulo teórico da sexta-feira à tarde, que, mesmo sem ter dormido na noite anterior, acompanharam com máxima atenção. “É a oportunidade de conhecer de perto a nossa Comissão de Arbitragem”, explicou o assistente 2 Tiago Ferreira. Esse foi o mesmo motivo que levou Ivan Guimarães, do Amazonas, sair de Manaus para Boa Vista. Ele havia faltado ao primeiro Seminário Regional, realizado na sua cidade, por compromissos já agendados na mesma data. “Não pude participar lá mas quando vi que teria em Boa Vista peguei o carro e vim. É a oportunidade do árbitro aparecer para a Comissão e obter conhecimento de pessoas que são nossa referência”, disse o árbitro amazonense.

O momento teórico serviu para que o trio rondoniense ouvisse diretamente do presidente da Comissão de Arbitragem, Rodrigo Cintra, as determinações que serão a linha da arbitragem para todas as competições, sobretudo a de o árbitro central ter uma postura assertiva e encorajada em campo. “É desgastante, mas vamos colher lá na frente. E pudemos ouvir o que a Comissão espera da gente, e pode ter certeza que vamos colocar isso em campo e o empenho no domingo vai ser muito maior”, disse.

Joverton Wesley Lima, Angleison Marcos Monteiro, Tiago Ferreira: trio de RO aproveitou ida para jogo em Boa Vista para adquirir conhecimentoCréditos: Arthur Damasceno / BV_Esportes

A promessa já foi cumprida no dia seguinte, quando o trio compareceu ao treino físico e pediu para participar de todas as atividades. Ao fim da atividade, reuniram-se com o instrutor Fabrício Vilarinho, que elogiou a disposição e humildade demonstrada ao pedirem para participar do Seminário mesmo estando designados para a partida.

Do outro lado do campo, o elenco do GAS treinava bolas paradas. O que era para ser uma atividade rápida, já que o time não tinha mais chances matemáticas de classificação, se tornou um treinamento meticuloso devido ao perfeccionismo do técnico Chiquinho Viana. “Ele falou que eram só algumas bolas paradas e já batemos para mais de 30 jogadas”, brincou um atleta quando o treinador mandou que o time alternasse das cobranças de escanteio para as de faltas.

Ex-jogador, Viana se tornou técnico em 2005. E desde 2011 passou a trabalhar no São Raimundo, também de Roraima, período em que conquistou 10 estaduais, sendo oito consecutivos. Nesta temporada, porém, foi cedido ao rival local para tentar uma recuperação na Série D: chegou no returno, quando time tinha apenas um ponto, e levou o GAS aos 17 na soma total. Ainda assim, não foi suficiente. “A equipe melhorou. Acho que se a gente estivesse no comando antes daria para pegar primeiro ou segundo do grupo”, disse.

Mesmo com a experiência acumulada, ele disse nunca ter dividido o campo de treino com a equipe que apitaria sua próxima partida. "A gente conhece quase todos eles (árbitros) e é muito bom conviver e ver a evolução deles”, elogiou.

O goleiro Matheus, do GAS, concorda com o comandante. “É importante cada vez mais investir na arbitragem. Além do jogador, é fundamental para o futebol eles terem mais conhecimento na área de trabalho deles. E amanhã a gente se encontra aqui com todo o respeito, eles fazendo o trabalho deles, a gente fazendo o nosso”, disse.

O Seminário gerou oportunidades para a Comissão de Arbitragem da CBF conhecer o cenário da FRF e do futebol roraimenseCréditos: CBF

O encontro entre os atores de futebol foi algo planejado pela Comissão de Arbitragem ao elaborar o projeto Arbitragem Sem Fronteiras. O presidente da Comissão, Rodrigo Cintra, explica que as fronteiras que se refere são não só físicas, mas sociais e culturais. Ele destaca que é importante aproximar os árbitros dos clubes para que ambas as partes reconheçam o profissionalismo, boa vontade e ambições existentes do outro lado. Por isso, manteve as portas abertas para os clubes e recebeu no período também o presidente do Náutico-RR, Marcelo Pereira, que o presenteou com uma camisa. “Humanizar o futebol dessa forma é essencial para termos um ambiente melhor e para que esse mercado evolua. Os clubes também são nossos clientes e ter o contato direto, poder ouvir deles seus anseios, é fundamental para a arbitragem”, concluiu.