Enfermeiro de formação, árbitro da CBF integra grupo de trabalho que visita crianças enfermas. Mineiro conta que iniciativa o ajuda no campo e na vida
Árbitro da CBF, Igor Junio Benevenutto se arruma para mais um dia de trabalho. Ajeita o meião, veste o calção e... Coloca o nariz de palhaço. Isso mesmo. O mineiro se transforma no Doutor Gravatinha, médico "besterologista", quando não está dentro das quatro linhas e leva alegria aos pequenos pacientes do Hospital ABC da Criança de Belo Horizonte (MG).
Igor é integrante do Guardiões do Riso, grupo mineiro de voluntários que frequenta hospitais e lares de idosos, utilizando a metodologia do "Doutor Palhaço". Nas horas vagas, o membro do quadro de arbitragem da CBF troca o apito e os cartões pela maquiagem branca, cartola e suspensório e arranca sorrisos de quem está debilitado. Enfermeiro de formação, a ideia de participar de um grupo como este surgiu pela vivência em hospitais. Ele viu a necessidade de levar alegria e não só conseguiu alcançar o objetivo, como também ajudou a si próprio.
– Sempre acompanhei essa parte de convívio com paciente e o desejo de trazer um pouco de alegria, doar um pouco do meu tempo para essas pessoas, para essas crianças. É um sentimento indescritível. Não só para elas, mas para mim também. Esse trabalho mudou a minha vida no modo de pensar, no modo de agir. Amanhã posso ser eu o paciente. E sei que um momento de felicidade faz diferença – afirmou.
O site da CBF acompanhou uma visita e viu que a chegada do Doutor Gravatinha e sua trupe no hospital muda o ambiente. Música, gritos e gargalhadas aparecem em um local onde cada corredor ou pilastra lembra que o silêncio é obrigatório. Apesar da indisciplina, Igor Benevenutto nunca ouviu uma reclamação e nem foi expulso.
– O hospital tem várias regras, né? Mas ninguém reclama. Tem a questão da higiene, contato com os próprios pacientes, o silêncio, que é muito importante, mas esse momento é muito especial. A gente percebe que as pessoas que estão internadas precisam dessa alegria. A gente não vai fazer um barulho ensurdecedor, uma algazarra grande, mas a gente leva o mínimo que pode para trazer essa alegria para essas pessoas. A música é muito importante. Ela anima a pessoa que está ali, quietinha, sozinha no canto. Desperta – acrescentou.
A iniciativa não faz bem só aos pacientes, mas também ajuda o árbitro. Benevenutto destaca a evolução que conquistou em alguns aspectos dentro das quatro linhas e afirma que tudo isso aconteceu após o início do trabalho solidário.
– A questão da paciência, de saber ouvir, entender o momento do jogador, melhorou. A gente percebe que o jogador está em um momento de grande estresse, com várias cobranças. Essa empatia tem me ajudado muito nas minhas arbitragens e percebi que foi depois que comecei a fazer esse tipo de trabalho. Me traz muita paz, muito conforto, serenidade. Eu sei que aquele momento de grande estresse vai ser só naquele momento e depois dali vão ter coisas boas na minha vida – declarou.
A psicóloga da Comissão de Arbitragem da CBF, Marta Magalhães, destacou como este trabalho pode ajudar Igor Benevenutto em campo. Para ela, a iniciativa pode ajudar até no desempenho técnico do árbitro.
– Quanto mais o ser humano se aproxima de quem ele é, mais ele valoriza o outro. Quanto melhor a qualidade de contato que ele tem consigo, melhor a qualidade de contato com o outro e com o meio. A partir do momento em que ele for exercitando habilidades de gratidão, a autoconfiança vai se qualificando. E quando ele qualifica a confiança, começa a tomar medidas e decisões com mais assertividade – finalizou.
Apesar de estar sempre dentro do campo, Igor Benevenutto não tem a possibilidade de marcar gols. Fora dele, tem feito golaços a cada visita como Doutor Gravatinha. E usa a autoridade como árbitro para dar um cartão vermelho para a tristeza.