Foram sete em seis jogos. Assista ao vídeo de matéria publicada no site no ano pasado
Debaixo de sol forte, rigor com os alunos e sorriso no rosto num campo de grama típico das comunidades cariocas. Essa é a rotina atual de Jairzinho, o Furacão da Copa de 70, que as terças e quintas-feiras coordena uma escolinha de futebol em Manguinhos, na periferia do Rio de Janeiro.
Seja para falar do projeto social que toca com alegria e simplicidade, seja para relembrar cada gol dos sete que fez na Copa do Mundo de 1970, que deu ao Brasil o tricampeonato mundial, Jairzinho tem papo fácil. O brilho nos olhos durante a conversa com o site cbf.com.br é a certeza de quem se orgulha do que fez no passado, mas também do que constrói no presente para ajudar o futuro de tantos meninos.
Jairzinho tem atualmente 69 anos. Nasceu em 25 de dezembro de 1944. É carioca de nascimento, criação e formação. Não teria cidade mais propícia para ele criar o seu projeto social. Na escolinha Fábrica de Talentos Furacão de 70, ao lado de companheiros como Jorge Eiras, professor de Educação Física da UERJ, e de ex-jogadores como Marco Antonio, ele treina meninos de 12 a 18 anos em oito turmas entre terça e quinta-feira.
- Nenhum deles paga nada, pelo contrário. A gente tenta ajudar com chuteira, uniforme é com a gente também. Nosso objetivo aqui, antes de mais nada, é formar o homem. Mas também, nesses três anos de projeto, têm jogadores que saíram daqui e estão em clubes pelo Rio de Janeiro - comentou Jairzinho.
Depois de falar com empolgação do que faz atualmente, Jairzinho se soltou mais ainda quando o assunto virou Copa do Mundo. Também pudera, né? O que deve passar na cabeça de alguém que conseguiu marcar gols em todos os jogos de uma mesma edição de Copa do Mundo? Adicione a este enredo um ingrediente: quatro anos antes, Jairzinho havia sofrido uma contusão na qual os médicos disseram que ele dificilmente voltaria a andar, quem dirá jogar bola.
- Fui um dos pioneiros a receber um enxerto ósseo. O médico perguntou se eu tinha religião, porque se tivesse, era aquele o momento de apelar para a fé. Quando olho para trás e lembro do que veio a seguir, na Copa do Mundo de 70, nossa, fica até difícil descrever - disse um orgulhoso Jairzinho.
É para ter orgulho mesmo. Quem mais tem uma história dessas? Jairzinho conquistou seu primeiro título com a Seleção Brasileira em 1963, no Pan-Americano. Depois, na Copa do Mundo de 1966, o primeiro gosto amargo com a amarelinha, segundo ele mesmo disse. Quatro anos depois, ele marcaria sete gols nas seis partidas da Copa do Mundo de 1970.
- Foram diversos pactos que envolveram aquela equipe. O principal deles: nós decidimos ser Brasil. Não tinha negócio de individualismo. A gente definiu que se fossemos campeões seríamos como grupo, como nação, como Brasil - contou.
Em campo, o que se viu foi uma Seleção deslumbrante, que envolveu um a um seus adversários até conquistar definitivamente a Taça Jules Rimet. Mérito dos jogadores, mas também muito crédito para Zagalo, como explicou o próprio Jairzinho.
- Você já imaginou alguém colocar cinco camisas 10 para jogar juntos? Na prática era isso: eu, Pelé, Gérson, Tostão e Rivelino fazíamos a diferença em nossos clubes. Na Seleção, tínhamos total liberdade dentro de campo, fizemos uma preparação física e técnica muito bem elaborada. Aquela Jules Rimet tinha de ser nossa - orgulha-se.
No quadro "Eu sou campeão do mundo", que estreou com uma entrevista de Gérson, o Canhotinha de Ouro falou do entrosamento que tinha com Jairzinho desde os tempos de Botafogo. O Furacão também lembra bem dessa dupla.
- Tínhamos um entrosamento à altura daquela Seleção, com muitas variações de jogadas. Tem um gol meu nessa Copa que até o câmera foi driblado, mas o Gérson já sabia o que fazer. Eu fingi um movimento, levei o marcador e o Canhota me lançou nas costas, com perfeição. No replay, o lance já mostra eu driblando o goleiro pra fazer o gol - detalhou.
Dentre as muitas curiosidades daquele Mundial, Jairzinho destacou uma das que mais o marcou. Depois da partida contra a Inglaterra, na qual o Brasil venceu por 1 a 0 com gol do próprio, no dia seguinte, durante o almoço, os jogadores ingleses foram até a concentração da Seleção para conhecer de perto, na intimidade, aqueles brasileiros quase sobrenaturais dentro de campo.
- Ficamos lá, sentados, vendo aqueles caras gigantes da seleção inglesa, que era a atual campeã do mundo, querendo falar com a gente, conhecer a gente, impressionados com o que tinham visto no dia anterior.
Vale a pena conferir essa entrevista com o Furacão da Copa de 70 em vídeo, na CBF TV. Ele descreve com detalhes e orgulho no rosto cada um dos sete gols marcados naquela campanha e muito mais.