A mais nova da Seleção em Atenas 2004

A mais nova da Seleção em Atenas 2004

Relato de Renata Costa, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008, e atleta mais jovem a ganhar uma medalha no futebol olímpico

Renata Costa conta a sua história olímpica Renata Costa conta a sua história olímpica
Créditos: Rafael Ribeiro

Eu não me sentia a mais nova daquele grupo. Antigamente, a Seleção era muito dividida, mas em 2004 todo mundo se tratava de maneira muito igual. Lembro que na Vila Olímpica nós andávamos todas de mãos dadas. A gente comia junto, fazíamos tudo junto. Tinha todo um significado. Talvez por isso, jamais imaginei que tivesse o recorde de ser a mais nova a conquistar uma medalha olímpica na modalidade.

Minha primeira convocação para a Seleção Principal foi em 2002, mesmo com idade para estar com a Sub-19 ainda. Então nas Olimpíadas eu ainda tinha a Formiga como inspiração, pela determinação que ela sempre teve dentro e fora de campo. Quem mais ajudava as mais novas do grupo era a Aline Pellegrino, que era a nossa capitã antes de 2004. Era uma referência muito grande para todas.

Mas o que me marcou mesmo foi um episódio com a Ju Cabral, em 2003. Estávamos jogando contra a Suécia, um jogo muito duro. Nós começamos a discutir dentro de campo, estávamos muito nervosas. Eu mesmo não estava conseguindo acertar nada. Foi quando a Juliana chegou em mim e falou: “Rê, vem cá. Pega só o que for bom para você. O que for ruim, tu joga fora”. Depois disso comecei a me segurar dentro do jogo. Era um momento em que eu precisava de alguém para me levantar. E foi ela que me levantou.

Além disso, tinha a Tânia Maranhão. Ela é muito engraçada. Sempre foi a alegria do nosso grupo, estava sempre brincando. Outra referência era a Dani Alves. Ela sempre foi muito centrada nos treinamentos. Aquele grupo eu vou levar para o resto da minha vida. Em todos os grupos que passo hoje, tento ajudar a outra companheira, me relacionar melhor. Aprendi isso com o grupo das Olimpíadas de 2004.

As Olimpíadas de 2004 e 2008 foram bem parecidas. A derrota de 2008 me doeu mais. Eu achei que a gente estava tão bem. Ganhamos de seleções que nunca tínhamos ganhado, como a Alemanha. Eu não entendo até hoje porque perdemos. Não consigo achar resposta para aquilo. Na hora que acabou o jogo, todo mundo chorando. As meninas recebendo a medalha, o papel picado começou a sair, e a gente só pensava que caramba, podia ser a gente. Por um pouquinho a gente não conseguiu. E ao mesmo tempo a gente pensava que chegou tão longe. O grupo merecia mesmo a medalha de ouro.

Mas não tenho nenhuma vergonha das nossas medalhas de prata, pelo contrário. Deixo todas juntas, quando vai alguém em casa, minha mãe mostra, meu pai mostra. Dizem: “Minha filha já foi da Seleção”. Eu sou o orgulho deles. Eu sempre falo que muitas meninas, até meninos, não têm apoio dentro de casa para jogar futebol. Lá em casa, não. Sempre mexemos com futebol.

Moro numa cidade muito pequena, em Assaí, no Paraná. Meu pai mexia com o futebol da cidade. Quando minha mãe ia trabalhar como faxineira, eu ia com ela, chutando um limãozinho na ida e na volta. E aí meu pai me colocou para treinar no meio dos meninos. Joguei campeonato, torneio entre eles. Foi quando ele resolveu fazer um time feminino na cidade. Ele me ensinou praticamente tudo no futebol. Tudo que sei devo ao seu Antonio, o Fumaça, como todo mundo o chamava. Como ele já tinha sido jogador, e era um atacante muito rápido, diziam que ele parecia uma fumaça.

Mas mesmo longe da Seleção, mantenho contato com as meninas. Falo bastante com a Cris. Sempre brinco com ela, digo que tem que ganhar, mas ela sabe que a responsabilidade é grande. Vai ser no Brasil, torcida não vai faltar para elas. E eu estarei torcendo.

Renata Costa, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008, e atleta mais jovem a conquistar uma medalha olímpica pelo futebol olímpico, aos 18 anos e quatro dias em 2004.

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