A arbitragem de futebol brasileira

A arbitragem de futebol brasileira

Preciso comparar tudo que vivi como árbitro com tudo que experimento, hoje, como instrutor de arbitragem da FIFA e da CBF

Manoel Serapião Manoel Serapião
Créditos: Kleber

Para constatar se a arbitragem brasileira evoluiu, preciso comparar tudo que vivi como árbitro com tudo que experimento, hoje, como instrutor de arbitragem da FIFA, da CBF e, inclusive, como integrante do Painel Técnico Consultivo do International Board (IFAB).

Fui árbitro de 1971 até 1993. Naquela época, além da deficiência na formação, os cursos de aperfeiçoamento, diretrizes e orientações para os árbitros eram raros, muito raros. Além disso, não existia, sequer, material didático eficiente. O livro de regras era quase que a única fonte de informação. Ser autodidata, portanto, era a lei para os árbitros “antigos”.

Hoje, porém, em que pese os cursos de formação ainda serem incipientes, apesar de a CBF haver dado os primeiros passos para melhorá-los, os árbitros “modernos”, depois de diplomados, têm quase tudo à disposição para alcançarem arbitragem de excelência, apesar de no campo social e material muita coisa ainda possa e deva lhes ser atribuída.

Com efeito, além de instrutores bem preparados para orientá-los, os árbitros “modernos” contam com vasto e valioso material didático, consistente em vídeos e literatura; há cursos e treinamentos nacionais e internacionais frequentes, embora devam ser mais constantes, para o que precisamos, particularmente, além de outras, vencer as dificuldades da extensão territorial e da diversidade cultural de nosso país; toda arbitragem, hoje, é analisada e dadas aos árbitros valiosas orientações para aperfeiçoamento.

Tudo isso, todavia, só passou a ocorrer no Brasil após o grande hiato de cursos, treinamentos, orientações, disponibilidade de material didático etc. que sofremos até 2005, a partir de quando Edson Resende de Oliveira assumiu a presidência da Comissão de Arbitragem da CBF, em cujo cargo foi secundado, em 2007, por Sergio Corrêa da Silva, que deu seguimento ao projeto traçado e, até, lhe imprimiu mais velocidade e alçou voos mais altos nos dois últimos anos, graças ao apoio da atual direção da Casa. Participei, honrosamente, das comissões dirigidas por ambos.

Desse modo, porque o processo de ensinamento e a técnica de arbitragem avançaram e porque os atuais árbitros do Brasil, normalmente, têm escolaridade que lhes possibilita aprofundar os conhecimentos e, sobretudo, pela resposta que vem sendo dada em campo e fora dele, concluímos, seguramente, que a arbitragem brasileira evoluiu e evoluiu muito. Não é o bastante, porém. Precisamos de mais, de muito mais!

Nossos árbitros, hoje, têm plena consciência da ética que a função impõe; revelam competência na esmagadora maioria dos lances de interpretação; atuam com padrão e diretriz comuns, enfim, têm um modo técnico, quase que científico, de conduzir as partidas.

Além dessas vitorias, outra e muito importante precisa ser destacada: a independência e controle emocional de nossos árbitros, que dão aos clubes visitantes a necessária despreocupação com as pressões decorrentes do mando de campo. Os clubes visitados vencem apenas 52,63% das partidas.

Os erros, tanto por serem próprios da limitação humana, como em razão da atual velocidade do futebol, que dificulta e, não raro, até impossibilita o olho humano de perceber alguns fatos, não pode, para quem busca a resposta certa, esconder a evolução que a arbitragem brasileira experimenta.

Evoluímos sim. Evoluímos seguramente e muito e em todos os pilares: mental, técnico, físico e social!

O melhor de tudo, todavia, é que, com a introdução de tecnologia nas arbitragens, do que somos ferrenhos defensores e para o que elaboramos o projeto encampado pela CBF, que foi a primeira e única entidade esportiva a solicitar, oficialmente, à FIFA e à IFAB  autorização para fazer o experimento – depois houve várias adesões, os erros que hoje produzem dano ao futebol e dúvida sobre a qualidade e, para alguns, até, sobre a ética de nossa arbitragem como um todo, serão reduzidos ao mínimo e a lances que, normalmente, não interferirão diretamente nos resultados das partidas.

Antes de finalizar e após concluir que a arbitragem brasileira evoluiu, o que muito nos anima, é preciso que um alerta seja feito, para que não retrocedamos: senhores árbitros “modernos”, sintam o jogo; busquem conhecer e respeitar a essência do futebol; atuem sempre com base nas regras, pois nelas estão todas as respostas; continuem sendo corajosos e imparciais; sejam firmes sem desrespeitar; e, ao lado tudo, atuem com entusiasmo, pois essas são a única chave para o sucesso e para que o pleno respeito à arbitragem brasileira seja alcançado!

Manoel Serapião Filho (Instrutor FIFA, CBF e membro do TAP/IFAB)

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